sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Nike



A idéia de criar a NIKE surgiu de um projeto de MBA de Phil Knight, um ex-atleta de corridas de média distância da universidade de Oregon, enquanto este freqüentava o curso de gestão administrativa da tradicional universidade de Standford. Ele acreditava que, ao importar tênis que eram fabricados no Japão, utilizando mão-de-obra barata, poderia conquistar uma parcela de mercado da marca alemã Adidas. Começou então pelos tênis de atletismo. Em 1963 foi ao Japão negociar com a marca Tiger a importação e representação de tênis para atletismo, com o objetivo de introduzi-los no mercado americano, que até aquele momento era dominado por marcas alemãs. No ano seguinte a primeira remessa de 300 pares da Tiger chegava à cidade de Portland, no Oregon, costa oeste dos Estados Unidos, em nome da empresa Blue Ribbon Sports, que Phil Knight e Bill Bowerman, seu treinador de atletismo na universidade de Oregon, haviam criado em 25 de janeiro com apenas US$ 1.000 e um aperto de mão. No primeiro ano a empresa faturou US$ 8.000.
Bill prontamente modificou o modelo, incorporando ao tênis a primeira entressola completamente acolchoada, inovação radical para a época. O tênis caiu no gosto do público e tornou-se o modelo da Tiger mais vendido em 1968. A dedicação à corrida era tanta que ambos sentiram a necessidade de um tênis que pudesse contribuir para a melhoria do desempenho do atleta. Bowerman decidiu então, em 1970, testar um solado de forma inusitada, mas que acabou dando certo: em sua cozinha despejou borracha na chapa de waffles da esposa para criar um solado melhor, mais leve e durável. Surgia então um tênis com uma sola leve e ondulada, muito mais aderente e considerada revolucionária para a época. Começaram então a produzirem seus próprios tênis.
Esta parceria não poderia ser melhor, além de grandes amigos, ambos entendiam do negócio que estavam começando. Enquanto Phil vendia os tênis no porta-malas de seu carro nas competições de atletismo realizadas pelo território americano, Bill cuidava do desenvolvimento e design de novos modelos. A partir daqui a tecnologia ligada ao esporte nunca mais seria a mesma. Mas os novos tênis com a primeira entressola inteiriça da história, que seriam produzidos inicialmente no México, precisavam de uma marca.E isto aconteceu no ano de 1971, quando a jovem estudante de design gráfico, Carolyn Davidson, criou por míseros US$ 35 o famoso símbolo da marca, chamado Swoosh. O nome Nike surgiu logo depois e foi por sugestão de Jeff Johnson, ex-rival de Phil nas pistas de atletismo e primeiro funcionário da Blue Ribbon Sports, que havia sonhado com a Deusa grega da vitória, “NIKÉ” (pronuncia-se niqué). Diziam os gregos que a Deusa podia voar e correr em grandes velocidades. E nada mais apropriado para a nova marca que surgia.A primeira aparição oficial da marca em eventos esportivos foi em 1972, nas classificatórias olímpicas realizadas no Oregon. Os atletas da maratona que usaram o tênis NIKE CORTEZ classificaram-se entre o 4º e o 7º lugar, enquanto os atletas da marca Adidas conquistaram os primeiros três lugares. Para promover a marca, a empresa confeccionou camisetas distribuídas durante as eliminatórias, sendo o primeiro item de vestuário da NIKE. Desde os corredores até fãs e juízes usaram as camisetas. Foi neste mesmo ano que o Canadá se tornou o primeiro país estrangeiro a receber os produtos da marca. Neste período Bowerman melhorou o material das solas utilizando borracha mais flexível, mais elástica e menos compacta. Em 1976, nas eliminatórias olímpicas americanas na cidade de Eugene, os tênis NIKE eram vistos em abundância nos pés de jovens promessas do atletismo.

Sua verdadeira expansão internacional começou em 1978, ano em que a empresa passou a ser oficialmente chamada NIKE Inc., com a entrada no mercado sul-americano e distribuição dos produtos no continente europeu. O ano de 1980 foi marcado pela inauguração do primeiro laboratório de pesquisa e desenvolvimento da empresa, onde era possível testar vários aspectos da biomecânica e da fisiologia do corpo humano. Pouco depois, em 1982, ingressou no mercado europeu de futebol ao firmar contrato de patrocínio com o time francês do Paris Saint-Germain. Nesta época a empresa já possuía uma linha de tênis com mais de 200 modelos. No final desta década, em 1988, a NIKE ingressou no segmento de calçados não esportivos ao adquirir a Cole Haan, uma marca Premium de sapatos e acessórios. A década de 80 foi marcada por grandes sucessos, principalmente os tênis NIKE AIR e AIR JORDAN, que se tornaram objetos de desejo entre os jovens do mundo inteiro.
Depois de passar por um período difícil entre 1993 e 1997, devido a um plano de expansão e acusações de utilização de mão de obra infantil em suas fábricas no continente asiático, o que levou a uma forte queda nas vendas e conseqüentemente no faturamento, a NIKE se reposicionou:“decidimos que éramos uma empresa de artigos esportivos e não apenas uma empresa de calçados”, afirmou Phil Knight tempos depois. Além disso, a NIKE resolveu entrar para valer na briga direta pelo mercado de futebol. A nova visão traduziu-se em contratos de publicidade e patrocínios que tinham como objetivo alcançar uma audiência esportiva mais ampla, patrocinando assim atletas individuais, como o jogador de golfe Tiger Woods. No mês de fevereiro de 2002 anunciou a compra da marca de roupas e equipamentos de surfe Hurley. No ano seguinte, comprou a fabricante do tradicional tênis All Star, a Converse, por US$ 305 milhões. A compra da marca All Star iria ajudar a ocupar um espaço que a marca ainda não havia conseguido se fixar: tênis de preço mais acessível. Nesta época, a NIKE se tornou verdadeiramente uma marca global, com o faturamento mundial superando o do mercado americano.
A campanha Joga Bonito, lançada em 2006, foi um sucesso mundial para a NIKE. Nela, o ex-jogador francês Eric Cantona, frustrado com os aspectos negativos do futebol, cria uma emissora para transmitir seu próprio manifesto defendendo os atributos que podem salvar o esporte que ele ama: honra, garra, habilidade, alegria e espírito de equipe. Para tanto, ele contou com a ajuda de craques como os brasileiros Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Fenômeno, o francês Thierry Henry e o inglês Wayne Rooney. O sucesso da campanha foi refletido em números: a marca vendeu mais de 2.4 milhões de uniformes e aproximadamente 23 milhões de pares de chuteiras em todo o mundo, consolidando assim uma posição de liderança, ao lado da rival Adidas, no mercado de futebol. Em 2007 surpreendeu o mundo ao adquirir por US$ 582 milhões a tradicional UMBRO, marca britânica com uma sólida herança e com uma profunda experiência no esporte mais popular do mundo e no maior mercado de futebol do planeta, acirrando ainda mais a guerra com a rival Adidas.

Em 2008, os Jogos Olímpicos na China serviram de palco para a apresentação da tecnologia Flywire, que permitia mudar a forma como calçados eram projetados, reduzindo ao mínimo a quantidade de tecido necessária para estruturar o tênis. Essa nova tecnologia, que consumiu sete anos de pesquisas, foi inspirada nas famosas pontes suspensas. Atualmente a NIKE trabalha com duas grandes categorias de produtos: Performance (produtos para uso esportivo) e Sports Culture (produtos para uso casual inspirados no esporte). Por tudo isso, a NIKE pertence àquele escasso time de empresas reputadas por revolucionar o setor em que operam. Maior fabricante mundial de artigos esportivos, a empresa foi pioneira no movimento de terceirização da produção, que acabou por se tornar um padrão global. Sem fábricas próprias, a NIKE passou a se concentrar na inteligência de marketing, design e inovação. Também transformou sua marca em um ícone mundial ao casar cultura popular com esportes e elevar o culto ao atleta a um ponto nunca antes imaginado. Nesse processo, criou o marketing esportivo moderno e produziu uma legião de milionários e vitoriosos. Tênis inspirados em pontes. Laboratórios que aplicam tecnologia espacial. Funcionários livres para treinar a qualquer hora do dia. A NIKE é realmente uma empresa diferenciada.

Philip Hampson

O cidadão Philip Hampson Knight nasceu no dia 24 de fevereiro de 1938 em Oregon. Era apenas um corredor esforçado, que pertenceu à equipe de atletismo da Universidade de Oregon e que teve como treinador Bill Bowerman. No final do seu curso de MBA, na respeitada Universidade de Stanford, apresentou um relatório de pesquisa baseado na teoria de que os japoneses poderiam fazer com calçado esportivo o mesmo que faziam com as câmeras de vídeo: transformá-lo em um produto barato e de qualidade. Era o embrião do que seria a NIKE. Ele tinha um sonho. Ele venderia tênis. Ele venderia sonhos. Ele ficaria rico. O resto da história é uma saga envolta em um ideal de vitória. Em 25 de maio de 2004 ele sofreu seu mais duro golpe quando seu filho, Matthew Hatfield Knight, morreu enquanto praticava mergulho no lago Ilopango, localizado 14 km a oeste de San Salvador. O fundador da NIKE, trigésimo homem mais rico dos Estados Unidos, com fortuna avaliada em US$ 12.7 bilhões, tem como principais paixões a história asiática, o golfe, o cooper e o tênis. Sua paixão pela empresa é tamanha que tem o logotipo da NIKE tatuado em seu tornozelo. Recentemente Phil Knight, se revelou um mão-aberta ao doar US$ 105 milhões para a Universidade Stanford, onde estudou. Com isso, ele ingressou na galeria de filantropos, na qual já brilham Bill Gates e Ted Turner.

A Sede

A sede mundial da NIKE, conhecida como World’s Headquarters (WHQ) e inaugurada no mês de junho de 1990, está localizada em Beaverton, uma pequena cidade localizada no estado de Oregon, no Condado de Washington. As suas instalações verdejantes, perto de Portland, refletem sua obsessão pelo esporte. A rua de entrada no complexo se chama Bowerman e o primeiro prédio, batizado de Prefontaine, funciona como um misto de museu e capela, onde se venera a história corporativa da NIKE. O complexo de 370.000 m² é formado por 17 enormes prédios que mais parecem uma universidade. Em nenhum outro lugar isso se torna mais evidente do que no edifício de design de calçados, conhecido como Nike Sports Research Lab (NSRL), cuja atmosfera lembra muito o ambiente estudantil. O edifício é impressionante: há campos para a prática esportiva (entre eles uma pista de 70 metros, equipada com câmeras que captam até 2 mil enquadramentos por segundo e são capazes de gerar imagens tridimensionais utilizadas para analisar os movimentos de um corredor; além de um gramado artificial usado para testes de produtos voltados para o futebol e uma quadra de basquete) e ambientes climatizados controlados por computador. 
Esses laboratórios climatizados permitem que os engenheiros testem os produtos em atletas simulando as mais variadas condições climáticas, controlando temperatura, umidade e luz do sol. Em meio a tanta tecnologia, uma das estrelas do LAB é uma caixa preta com um furo no topo para colocar o pé. O equipamento foi desenvolvido em parceria com diferentes universidades. Com aparência de um caixote sem graça, oculto em seu interior há um equipamento de laser e oito câmeras minúsculas, que gravam em detalhes milimétricos as dimensões de um pé e transmitem essas informações para uma máquina de modelagem.
Outro prédio, que homenageia a jogadora de futebol Mia Hamm, ocupa uma importância prioritária na estratégia da NIKE. Afinal, é justamente neste edifício que literalmente palpita o centro nervoso dos processos de inovação da marca americana, e onde estão localizados o departamento de designer, as bibliotecas de materiais e um laboratório de tendências. O mais importante desses laboratórios, onde trabalham 75 cientistas, foi popularmente batizado de “Cozinha da Inovação”, um dos redutos mais secretos e reclusos do campus, onde não é permitido tirar fotos em 75% dos prédios. Esse laboratório, que começou a ser idealizado em 1999, é descrito como um lugar caótico, repleto de computadores, bancadas de trabalho e vários tipos de equipamentos para a produção de calçados e vestuários. Clientes só podem entrar na “Cozinha” depois de assinar um contrato de confidencialidade. Cada prédio de sua sede tem o nome de um atleta, que foi ou é essencial para o crescimento da empresa. John McEnroe (prédio que abriga os escritórios dos principais executivos), Tiger Woods (prédio do centro de convenções), Lance Armstrong (academia de ginástica), Steve Prefontaine (museu), Bo Jackson (academia), Mia Hamm (maior prédio do campus) e Michael Jordan são homenageados. Suas imagens enormes estão estampadas nas paredes externas em momentos gloriosos.
Os funcionários, aproximadamente 7 mil trabalham lá, são pessoas ativas que tiram vantagem da enorme estrutura esportiva que o complexo possui. Uma vida saudável é a palavra de ordem por lá. Pistas de cooper, campos de futebol, quadras de tênis, piscinas cobertas e climatizadas e duas enormes e modernas academias batizadas com nome do ciclista Lance Armstrong e do jogador de futebol americano Bo Jackson, dois importantes atletas que foram patrocinados pela empresa. Sem contar os instrutores e um completo programa de treinamento a disposição.
Uma das áreas centrais do complexo é dominada por dois gramados de futebol profissionais, batizados de Ronaldo Fields, em referência ao jogador brasileiro que até hoje é um dos atletas mais importantes da marca. É praticamente impossível olhar para qualquer lado e não se deparar com uma fotografia, um pôster, um aparelho de televisão ou uma peça de recordação que lembre aos funcionários e visitantes que se está em um templo dedicado a esportistas. O enorme complexo conta ainda com restaurantes, uma mega-loja para funcionários (chamada de“Beaverton Employee Store”) e paisagens naturais belíssimas. Anexa ao complexo está localizada a Air Factory, fábrica onde são produzidos e testados os modelos NIKE AIR. Em uma visita guiada é possível acompanhar todas as etapas e as tecnologias utilizadas na produção do modelo mais famoso da empresa.

Marketing

A história da NIKE com a propaganda é recheada de momentos marcantes. Começou em 1977 com um de seus primeiros slogans que dizia: There is no finish line (Não há linha final). A sorte da marca começou a mudar em 1982, quando a agência de publicidade Wieden & Kennedy foi fundada em Portland. Segundo muitos, ela foi criada justamente para atender a conta publicitária da NIKE que se tornaria seu cliente mais fiel e conhecido. E a primeira grande campanha foi um verdadeiro sucesso. Chegou em 1988 com o famoso slogan JUST DO IT (algo como “Apenas Faça”). Muito mais que um simples slogan, esse conceito transformou-se em uma espécie de declaração universal dos objetivos de todo atleta, em qualquer parte do mundo. A idéia de que, diante do esforço, não há fronteiras, é a expressão moderna dos ideais gregos, que praticavam o esporte como busca da perfeição e do belo. Porém, o melhor ainda estava por vir. Em 1989, a campanha estrelada pelo astro Bo Jackson, um atleta versátil, jogador de futebol americano e beisebol profissional, introduziu no mercado um dos slogans mais famosos da publicidade americana: BO KNOWS. Campanhas dirigidas pelo cineasta Spike Lee também ajudaram a colocar o logotipo da NIKE no imaginário popular do planeta.

 controvérsia sempre esteve presente em suas campanhas publicitárias. E uma das que mais causou discórdia foi a campanha para as Olimpíadas de Atlanta em 1996. O slogan You Don’t Win Silver — You Lose Gold (Você não ganha a Prata – Perde o Ouro), ia contra todo o ideal olímpico de confraternização, onde o importante é competir. As críticas surgiram de todos os lados, inclusive dos atletas que conquistaram medalhas de prata e bronze. A NIKE não deu bola e seguiu em frente. A marca foi eleita anunciante do ano em 1994 e 2003.
Em março de 2002, vésperas da Copa do Mundo de Futebol, a NIKE iniciou uma campanha mundial de marketing estimada em US$ 100 milhões, criada em torno do que chamou de “Secret Tournament”. A fase “provocativa” da campanha começou em março com propagandas que não mostravam mais do que um par de chuteiras de futebol e um escorpião, um símbolo do “estilo rápido e mortal de jogo” com o qual a NIKE queria ser identificada. Para os curiosos, havia uma referência ao endereço eletrônico nikefootball.com, onde os visitantes poderiam jogar videogames e aprender mais sobre o torneio em 12 idiomas. A fase de “excitação” do torneio começou em abril, com uma série de comerciais retratando um ambiente sombrio e agressivo que evocava a Austrália pós-apocalíptica do filme Mad Max e a alienação do Clube da Luta. Oito equipes de três jogadores, compostas pelas principais estrelas do futebol mundial como Ronaldinho Gaúcho, Thierry Henry, Francesco Totti, Roberto Carlos, Hidetoshi Nakata, Edgard Davids, Luis Figo, Javier Saviola, Lilian Thuram, Ronaldo, Denílson, Hernan Crespo e até o aposentado francês Eric Cantona, no papel de mediador, disputavam um torneio de partidas do tipo morte-súbita em um pequeno campo dentro de uma jaula de aço em um enorme navio. 

Por fim a fase de “envolvimento” da campanha foi lançada em junho, quando a marca instituiu campos de futebol na Cidade do México, Tóquio, Roma e em 10 outras cidades para realizar torneios para jogadores iniciantes. Quase dois milhões de jogadores participaram. Na época da Copa do Mundo de 2002, realizada em junho, a NIKE fez sentir sua presença no mundo do futebol. Oito dos 32 participantes usaram uniformes da marca, inclusive o Brasil, que venceu a competição pela quinta vez. No jogo final, Ronaldo fez dois gols usando um par de chuteiras cromadas Nike Mercurial Vapors. Foi justamente esta Copa do Mundo que mudou a história da marca. Pela primeira vez as vendas internacionais superaram as receitas americanas. Em 2003 os calçados para futebol tiveram crescimento nas vendas de 46%. O futebol deu a Ásia à NIKE. A empresa, que já havia somado pontos importantes no continente com as roupas, tênis e acessórios para beisebol e basquete, conquistou de vez japoneses, chineses e coreanos com a febre da bola que tomou conta da região neste início de século.
Uma das mais recentes campanhas mundiais da NIKE para o futebol, lançada em 2010, foi intitulada “Escreva o Futuro” (“Write the Future”, em inglês). A nova campanha mostrava através de comerciais repletos de emoção o impacto dos momentos fundamentais de um jogo que vão além dos 90 minutos, onde um simples instante pode levar um jogador de futebol a receber as maiores demonstrações de reconhecimento ou cair no esquecimento absoluto. Estrelaram a campanha global algumas das maiores estrelas do futebol mundial: Cristiano Ronaldo, Didier Drogba, Wayne Rooney, Fabio Cannavaro, Frank Ribéry, Andres Iniesta, Cesc Fábregas, Theo Walcott, Patrice Evra, Gerard Piqué, Ronaldinho Gaúcho, Landon Donovan e Thiago Silva, além da lenda do tênis Roger Federer e da estrela da NBA, Kobe Bryant. De forma bem-humorada Homer Simpson completou o time de estrelas convidadas.
Por ano a NIKE desembolsa aproximadamente US$ 2 bilhões, que corresponde a 10% de seu faturamento anual, em publicidade e contratação de atletas renomados como garotos-propaganda. A história começou com o tenista romeno Llie Nastase, primeiro atleta a firmar contrato para utilização dos tênis NIKE em 1972. A outra parte da história teve início com o corredor americano de longa distância Steve Prefontaine, patrocinado pela empresa em 1973 e conhecido não apenas por ter batido todos os recordes americanos entre os 2.000 e 10.000 metros na década de 70, mas também por sua determinação e beleza. Steve morreu tragicamente aos 24 anos em um acidente de automóvel, pouco antes das Olimpíadas de 1976, em Montreal, no Canadá. Sua história virou filme, e a NIKE seguiu em frente.
Outros atletas assinaram contratos com a empresa como o controverso tenista John McEnroe (1978); o corredor Carl Lewis (1980), o jogador de basquete da Universidade da Carolina do Norte chamado Michael Jordan (1985), que viria se tornar seu mais conhecido garoto-propaganda; os tenistas André Agassi (1988) e Pete Sampras; o jogador Ronaldo (1994); o golfista, até então amador, Tiger Woods (1996), que hoje possui um contrato de 5 anos no valor de US$ 100 milhões; o jogador Ronaldinho Gaúcho (1998); o astro do basquete LeBron James (2003); entre muitos outros, como a bela tenista Maria Sharapova, que voltou a ser a esportista mais bem paga do mundo ao renovar seu contrato com a marca em 2010, no valor de US$ 70 milhões. Esse time de astros é muito mais que apenas atletas patrocinados. São colaboradores. Eles testam os produtos e sugerem inovações.
Nas Olimpíadas de Atlanta em 1996, o velocista Michael Johnson usou uma criação sua, o Gold Shoe, uma sapatilha dourada (mais leve calçado esportivo já projetado). Tornou-se, aos 29 anos, o único homem até então a vencer as provas de 200 e 400 metros rasos na mesma Olimpíada. Outro exemplo é a chuteira Mercurial, criada a partir de informações do jogador Ronaldo e testada por ele até a versão final. O mesmo ocorreu com a chuteira Tiempo, usada por Ronaldinho Gaúcho.
Um esporte em especial foi essencial para o crescimento da marca, o futebol, considerado o esporte número um do mundo. Em 1994, a marca possuía apenas 2% do mercado de equipamentos para futebol. Para derrotar a marca líder do mercado, a alemã Adidas, se concentrou em jogadores de futebol jovens e talentosos. Para atingir esses atletas, assinou contratos de propaganda com astros da Argentina, Grã-Bretanha, Brasil, Portugal, México, China e Japão. Também procurou jogadores que expressassem e incorporassem um estilo de futebol mais rápido e centrado no ataque “em contraste com o estilo defensivo e metódico conhecido como futebol alemão”, uma clara provocação a sua rival germânica. Ao associar sua imagem à de estrelas de diferentes esportes, a empresa quer comunicar que todos nós podemos ser atletas, desenvolver aquele espírito competitivo retratado em suas campanhas publicitárias e, quem sabe, chegar lá um dia.
Atualmente o time de craques da NIKE é composto pelos jogadores brasileiros Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Neymar, Paulo Henrique Ganso, Maicon, Alexandre Pato, Luis Fabiano, Daniel Alves, Nilmar e Thiago Silva; o português Cristiano Ronaldo; os ingleses Wayne Rooney e Rio Ferdinand; os argentinos Carlito Tévez, Sérgio Aguero e Javier Mascherano; os italianos Andréa Pirlo, Mario Balotelli e Gianluca Zambrotta; os americanos Landon Donovan, Tim Howard, Clint Dempsey e Carlos Bocanegra; os espanhóis Carles Puyol, Andrés Iniesta, Cesc Fábregas, Gerard Piqué e Fernando Torres; os alemães Miroslav Klose e Mesut Ozil; o sueco Zlatan Ibrahimovic; o marfinense Didier Drogba; os franceses Frank Ribéry e Patrice Evra; o russo Andrey Arshavin; o mexicano Rafael Márquez; o chileno Jorge Valdivia; e os holandeses Rafael Van De Vaart e Wesley Sneijder. Clubes e seleções também são alvos preferenciais da NIKE. Atualmente a empresa gasta milhões de dólares para fornecer materiais esportivos para as seleções nacionais, como por exemplo, França (US$ 62.8 milhões/ano), Brasil (US$ 12 milhões/ano), Estados Unidos, Holanda, Portugal, Sérvia, Polônia, Austrália, Nova Zelândia e Coréia do Sul; além de times como Barcelona (US$ 44 milhões/ano), Manchester United (US$ 44 milhões/ano), Arsenal (US$ 25 milhões/ano), Porto (US$ 16.4 milhões/ano), Juventus (US$ 16 milhões/ano), Internazionale, Atlético de Madrid, Werder Bremen, Boca Juniors, PSG, Celtic, América do México, Corinthians, Santos, Internacional, Bahia e Coritiba, estes quatro últimos a partir de 2012.

A Marca

A NIKE é o sonho de toda a marca, o branding em seu estado puro. Seu logotipo sofreu grandes alterações no decorrer dos tempos. E não é que o conhecido Swoosh, palavra que designa o som produzido por uma arremetida repentina de ar, se tornou um dos símbolos mais conhecidos e respeitados do planeta. Parece fácil falarmos isso agora. Mas imaginem que em 1971 a estudante de design gráfico, Carolyn Davidson, criou o que viria a se tornar um dos símbolos mais famosos do mundo. Ousaram, investiram e principalmente apostaram na verdadeira essência da propaganda para que o logotipo pudesse dispensar o nome da marca. O resultado todo mundo pode ver hoje, uma das marcas com maiores índices de respeitabilidade e relação emocional com o consumidor.
Segundo a consultoria britânica Interbrand, somente a marca NIKE está avaliada em US$ 14.528 bilhões, ocupando a posição de número 25 no ranking das marcas mais valiosas do mundo, além de ocupar a posição de número 18 no ranking das marca mais influentes do planeta. A empresa também ocupa a posição de número 135 no ranking da revista FORTUNE 500 de 2011 (empresas de maior faturamento no mercado americano).
A empresa tem aproximadamente 38.000 funcionários no mundo (e mais de 950.000 trabalhadores indiretos que estão empregados nas fábricas contratadas), opera mais de 350 outlets próprios (Nike Factory Outlets), além de aproximadamente 420 lojas Niketown, NikeWomen e Nike Clearance, tendo seus produtos vendidos em 170 países. A NIKE lança por trimestre até 1.800 novos produtos. Os produtos direcionados ao público feminino atualmente geram um faturamento de US$ 4 bilhões, 20% das vendas totais da marca. Os mais de 300 milhões de pares de tênis vendidos por ano garantem um faturamento superior a US$ 20 bilhões. A NIKE possui mais de 700 fábricas, a grande maioria terceirizada e localizada em boa parte na Ásia (Indonésia, China, Taiwan, Índia, Tailândia, Vietnã, Paquistão, Filipinas e Malásia). Suas subsidiárias (Umbro, Cole Hann, Hurley e Converse) representam aproximadamente US$ 2.7 bilhões do faturamento anual da empresa.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Apple




Tudo começou quando os jovens engenheiros Steve Wozniak e Steve Jobs, que tinham sido colegas de turma no colegial, vislumbraram a possibilidade de desenvolver e comercializar computadores pessoais. Ambos eram ávidos apaixonados por inovação e interessados em eletrônica. Após a graduação, continuaram amigos e em contato direto, trabalhando em empresas localizadas no Vale do Silício. Jobs trabalhava na Atari e Wozniack na tradicional Hewllet-Packard. Jobs com sua grande visão futurista insistia que ambos, mais Ron Wayne, deveriam tentar vender computadores pessoais. A idéia era desenvolver um microcomputador que pudesse ser menor e bem mais acessível que os modelos desenvolvidos pela lendária PARC. Essa idéia e união resultaram no nascimento da APPLE COMPUTER COMPANY no dia 1° de abril de 1976.
O capital inicial da nova empresa, com sede na garagem da casa dos pais de Steve Jobs, era originário da venda de uma Kombi e de uma calculadora HP. A palavra Apple foi escolhida por três razões: o nome iniciava-se com “A”, portanto apareceria listado na frente da maioria dos competidores; ninguém esperaria uma associação de sentidos de uma maçã com computadores, sendo uma aposta no inusitado; e uma maçã está ligada a uma vida saudável (an apple a day keeps the doctor away”). Além do mais, muito acreditam que a maçã desenhada com faixas era uma alusão à marca listrada da poderosa IBM e o pedaço mordido uma clara referência ao pecado bíblico.
Steve Jobs, não queria somente vencer a concorrência no ramo dos computadores pessoais, mas sim, mudar uma sociedade, criar uma nova perspectiva de vida para uma nova geração que estava por vir. A recém-fundada empresa resolveu então colocar no mercado o computador batizado de Apple I, criado e desenvolvido por Wozniack. Porém, os hobistas não levaram o Apple I, vendido por US$ 666.66, a sério e os computadores só decolaram em 1977, quando o Apple II foi apresentado em uma feira de informática. Primeiro computador a ter o CPU feito de plástico e com designers gráficos coloridos, era uma máquina impressionante e fez muito sucesso. Em meados de 1978, o lançamento do Apple Disk II, o floppy drive mais barato da época, fizeram com que as vendas da empresa disparassem. Com o aumento das vendas, veio também um aumento significativo da empresa e pôr volta de 1980, quando o Apple III foi lançado no mercado, a APPLE começou a vender seus computadores também para o exterior. No afã de dar continuidade à revolução que iniciou, Jobs cometeu o que talvez tenha sido seu primeiro erro: mandou seus projetistas eliminarem a ventoinha do Apple III, o que resultou na necessidade de substituir milhares de unidades danificadas por superaquecimento.
Três anos mais tarde, seria lançada uma versão revisada do Apple III, mas a imagem da máquina já tinha sido irremediavelmente arranhada pela falha de projeto do modelo anterior. Em 1981 as coisas começaram a se complicar. Primeiro, o mercado ficou saturado dificultando as vendas. Depois, Wozniack sofreu um acidente aéreo ficando ausente da empresa e Steve Jobs assumiu o controle. E para complicar o fracasso do computador Lisa, batizado assim em homenagem a filha de jobs. Era o início de uma grande crise, que culminaria com a saída de Steve Jobs da empresa após feroz desentendimento com John Sculley, CEO da APPLE na época.
Nem o estrondoso lançamento do Macintosh em 1984 foi capaz de conter a crise. De uma hora para outra os computadores da APPLE perderam o brilho e traziam uma interface desatualizada para os padrões da época, com características que desagradavam os consumidores. Em meados da década de 90, quase a beira da falência, a APPLE começaria a protagonizar uma das maiores reviravoltas no mundo dos negócios, justamente após a volta de Steve Jobs a empresa em 1996. Com o gênio de volta a marca da maçã iniciou uma sequência incrível de lançamentos de produtos e programas, dentre os quais o iMac (computador cujo gabinete é integrado ao monitor), e mais recentemente o iPod (permitiu que as pessoas transportassem todo o seu acervo de canções no bolso), iPhone (redefiniu a categoria de smartphones ao se mostrar fácil de usar e reunir uma série de funcionalidades de computação e entretenimento em um só aparelho) e o iPad (que consolidou o mercado de tablets e inaugurou a “era pós-PC”), que se tornaram estrondosos sucessos de vendas e revolucionaram o mundo dos computadores e da comunicação, acabando com as inúmeras crises por qual a empresa passou, transformando-a na mais inovadora, e uma das mais poderosas e influentes, do mundo. Afinal, Jobs soube como nenhum outro, utilizar a tecnologia como um instrumento para influenciar a cultura e satisfazer, muitos diriam até mesmo criar, desejos e necessidades em consumidores de todo o planeta. E essas maquininhas fantásticas criadas pela APPLE, além de contribuíram para a formação de um estilo de vida conectado, afeito à mobilidade e no qual a informação trafega fácil e rapidamente, colocaram o mundo na ponta dos dedos de milhões de consumidores, que transformaram uma maçã mordida em ícone de adoração, arregimentando uma legião de devotos, aquilo que os profissionais de marketing chamam de evangelizadores da marca.
A crise vivida em boa parte dos anos 90 não impediu que APPLE fosse pioneira ao lançar produtos revolucionários como a impressora laser PostScript; o Desktop Publishing; a Universal Serial Bus, popularmente conhecida como entrada USB que substituiu diversas outras, se tornando um padrão mundial, e atualmente usada em Pen Drives e MP3 Players; os primeiros laptops com mouse de série e teclados externos (série PowerBook 100, introduzidos em 1991); o abandono do leitor de disquetes (iMac original, introduzido em 1998); o primeiro computador disponível comercialmente a se basear principalmente no USB para a conexão de periféricos (iMac original, introduzido em 1998); e o primeiro laptop com monitor de tela larga (PowerBook G4, introduzido em 2000).
Em junho de 2005, Steve Jobs surpreendeu o mundo da informática ao anunciar que a APPLE estava trocando os processadores PowerPC de seus computadores por processadores da marca Intel. Os primeiros modelos de Macintosh equipados com chips da Intel apareceram à venda no começo do ano seguinte: o MacBook Pro e o iMac, ambos equipados com o processador Intel Core Duo. A frase da campanha para o lançamento dos novos modelos, bastante provocativa, era: “O que um chip Intel faria dentro de um Mac? Muito mais do que já fez em qualquer PC”. Com o lançamento de dois novos produtos, o Apple TV e o iPhone, durante a MacWorld 2007, a APPLE anunciou a mudança do seu nome de Apple Computers Inc. para Apple Inc. Esta mudança ocorreu principalmente pelo novo posicionamento mercadológico que a empresa passou a adotar. A empresa, com estes dois novos produtos, e juntamente com o iPod e seus computadores, passou a atuar não somente no mercado de informática mas também no mercado de eletrônicos. Hoje em dia, MacBooks poderosos, iMacs que carregam toda a potência de um computador dentro do próprio monitor e iPhones cada vez mais versáteis, provam a total capacidade de inovação da empresa. Além disso, a APPLE mostra ao público tecnologias que visam a portabilidade, como o incrível MacBook Air, o iPod nano 3G e o iPad, produtos que provam o poder da empresa no mundo da tecnologia.

Com a morte de Steve Jobs no início do mês de outubro de 2011, a torcida dos fiéis devotos da maçã prateada é de que os homens escolhidos a dedo por ele para seguir com o seu legado, como Tim Cook (para o cargo de CEO), Jonathan Ive (vice-presidente de design e comandante de uma área vital para que os aparelhinhos da inovadora marca façam o sucesso estrondoso) e Phil Schiller (vice-presidente de marketing), tenham aprendido com o mestre não só a hora de ser pragmático, mas, sobretudo, como ser detalhista e visionário. O desafio agora é mostrar que a APPLE pode manter acesa a chama da inovação, a capacidade de revolucionar o mercado e influenciar a sociedade.


Steve Jobs

Steven Paul Jobs era o garoto-propaganda dos sonhos de qualquer publicitário. Idolatrado pelos consumidores de seus produtos e por boa parte dos funcionários da empresa que fundou e ajudou a transformar na maior companhia de capital aberto do mundo, em valor de mercado, ele foi um dos maiores defensores da popularização da tecnologia, uma pessoa com qualidades raras, um visionário capaz de transformar a indústria da tecnologia por várias vezes. Personificava como poucos os conceitos de arrojo e genialidade. Tanto que Jobs era o responsável por anunciar pessoalmente cada lançamento da APPLE, impondo uma visão de simplicidade no mercado da tecnologia. Isto porque, acreditava que computadores e gadgets deveriam ser fáceis o suficiente para ser operados por qualquer pessoa, como gostava de repetir em um de seus bordões prediletos, que era simplesmente funciona” (em inglês, “it just works”).
Para muitos um gênio sem igual, Jobs apostou na música digital armazenada em memória flash quando o mercado ainda debatia se não seria mais interessante proteger os CDs para fugir da crescente indústria da pirataria. Acreditou que era preciso gastar poder computacional para criar ambientes gráficos de fácil utilização enquanto gigantes do setor ainda ensinavam usuários a editar o arquivo “AUTOEXEC.BAT” para configurar suas máquinas. Vislumbrou a oportunidade de criar smartphones para pessoas comuns ao mesmo tempo em que o foco dos principais fabricantes era repetir o sucesso corporativo do BlackBerry. E todas essas brilhantes idéias, surgiram sem quase nenhuma pesquisa de mercado. Sob seu comando a APPLE dependia muito pouco de pesquisas de mercado. “Não dá para sair perguntando às pessoas qual é a próxima grande coisa que elas querem. Henry Ford disse que, se tivesse questionado seus clientes sobre o que desejavam, a resposta seria um cavalo mais rápido”, afirmou, em entrevista à revista Fortune em 2008. Perfeccionista e workaholic, ele gostava de controlar todos os processos produtivos da APPLE, resistindo, inclusive, à decisão de terceirizar gradativamente a fabricação dos produtos da marca para fabricantes chineses, plano proposto e executado pelo agora novo comandante da empresa, Tim Cook. Conhecido como um “micro-gerente”, nenhum produto da APPLE chegava aos consumidores se não passasse pelos rígidos padrões Jobs de qualidade e de excentricidade. Isso incluía, segundo relatos, o número de parafusos existentes na parte inferior de um notebook e a curvatura das quinas de um monitor.
Considerado uma espécie de pop-star corporativo do mundo dos negócios, ele nasceu no dia 24 de fevereiro de 1955 na cidade californiana de São Francisco, filho biológico de Joanne Simpson e do imigrante sírio Syrian Abdulfattah John Jandali, e criado pelos pais adotivos, Paul e Clara Jobs. Com apenas cinco anos mudou-se com seus pais adotivos para Palo Alto, cidade que posteriormente ficaria conhecida como um dos polos da tecnologia e comporia o chamado Vale do Silício. Não foi um aluno aplicado, achava a escola chata e isolava-se freqüentemente dos colegas. Influenciado pela profissão do pai, mecânico de um laboratório de física, começou, desde muito novo, a se interessar por máquinas e pelo seu funcionamento, tendo uma mistura de paixão e curiosidade em montá-los e desmontá-los. Embora tenha abandonado a universidade no primeiro ano, comparecia a palestras técnicas na lendária Hewlett-Packard e fez um curso de caligrafia, que citou como o motivo dos computadores Macintosh serem desenhados com múltiplas tipografias. Foi nessa época, início dos anos 70, que iniciou uma parceria com Steve Wozniak, seu amigo de colegial. Porém com poucos recursos, os dois jovens tiveram que recorrer à garagem do pai de Jobs para instalar a sua pequena oficina. Para financiar os primeiros 50 circuitos do computador Apple I, ele teve que vender seu carro Volkswagen e Wozniak sua calculadora programável. Era o começo de um embrião que se chamaria APPLE. Sempre polêmico e implacável com seus concorrentes e adversários, ele, que era budista, fundou a APPLE após uma mística viagem à Índia em 1973 em busca do guru Neem Karoli Baba. O Maharaji morreu antes da chegada de Jobs, mas o americano dizia que havia encontrado a iluminação no LSD. “Minhas experiências com LSD foram uma das duas ou três coisas mais importantes que fiz em minha vida”, disse, em entrevista ao jornal New York Times. Depois, como sempre polêmico, afirmou que seu rival, Bill Gates, seria “uma pessoa (com visão) mais ampla se tomasse ácido uma vez”.

Considerado o “Pai do Macintosh”, computador revolucionário que preconizou todos os futuros PCs depois de 1984, foi forçado a deixar a empresa que fundara em virtude de ferozes disputas internas, em 1985. Sua forte personalidade não deixou que ficasse quieto. Em 1986, comprou a então problemática divisão de animação gráfica da LucasFilm, e fundou a PIXAR ANIMATION STUDIOS, que anos mais tarde ficou famosa por uma nova linguagem de animação 3D para curtas e longas metragens, responsáveis por enormes sucessos como “Toy Story”, “Monstros S.A.” e “Procurando Nemo”. Fundou também a NeXT, uma empresa dedicada ao desenvolvimento de poderosos computadores indicados para o uso educacional e desenvolvimento de programas. Esses dois novos empreendimentos contribuíram para alavancar o mito em torno de seu “toque de Midas”.
Em dezembro de 1996, a APPLE adquiriu a NeXT, manobra que serviu para incorporar tecnologias ao grupo e trazer Jobs de volta para o comando da empresa, que se encontrava em uma situação financeira frágil e complicada. Sob sua orientação e comando, a APPLE aumentou suas vendas significativamente depois de inovações como o iMac, iPod, iPhone, a loja virtual iTunes e mais recentemente o iPad. Todos esses aparelhos já existiam, mas receberam o “toque de Midas” de Steve Jobs. Tocadores de MP3 já existiam, mas foi pensando na praticidade que surgiu o iPod. Smarphones com tela sensível ao toque não eram novidade, mas com a simplicidade do iPhone o mercado de dispositivos móveis passou a rever conceitos. Com os tablets, a história se repetiu. As pranchetas eletrônicas já existiam, mas as pessoas não viam sentido nelas. Até que Steve Jobs reformulou um dispositivo que estava desacreditado, investindo em um produto falido. Quem cometeria um desatino desses? Somente alguém que jamais desistiu de um sonho, digamos um tanto, ousado: mudar o mundo. Neste período, a APPLE experimentou um crescimento incomum na história do capitalismo americano.
Para se ter idéia do que Steve Jobs era capaz de fazer, bastava assistir ou acompanhar as anuais palestras emblemáticas (chamadas de “Keynotes”), que ele comandava na MacWorld (feira oficial da APPLE), quando lançava suas tão esperadas e desejadas idéias, que nos últimos anos revolucionaram o mercado e a forma de como a sociedade se comunica, ouve música ou acessa a Internet. Tais apresentações eram marcadas pela sua maneira de se apresentar, sempre vestindo blusa preta de gola olímpica (da marca St. Croix), jeans e tênis New Balance modelo 991. Tudo muito “cool” como dizem os americanos. Cada vez que ele subia ao palco com seu visual minimalista para anunciar um novo produto, o mundo parava. Afinal, todos queriam saber o que a mais inovadora empresa do mundo andava aprontando. Era um verdadeiro mago nessas apresentações tão aguardadas pelo didatismo e capacidade de aglutinar o interesse do consumidor. Definitivamente a APPLE não seria a mesma sem Steve Jobs.
Em 2006, a Walt Disney Company comprou a PIXAR por impressionantes US$ 7.4 bilhões, e tornou Steve Jobs o maior acionista individual da empresa, onde ocupava também o cargo de conselheiro executivo. A rivalidade dele com Bill Gates, fundador da Microsoft, se transformou em um elemento cultural do setor. Essa disputa pode ser conferida no filme produzido pelo canal de TV a cabo TNT, “Pirates of Silicon Valley”, que aborda a biografia deles e das suas empresas.
Steve Jobs anunciou no dia 14 de janeiro de 2008 que estava se afastando da empresa por licença médica até o final de junho. O executivo disse, por e-mail, a funcionários que seus problemas de saúde eram mais complexos do que ele pensava, como atestava sua aparência debilitada, especialmente pela magreza acentuada. Steve Jobs também indicou a pessoa que assumiria os negócios durante sua licença: Tim Cook, então diretor-chefe de operações da APPLE. Mas, seu afastamento durou pouco e ele voltou para fazer novas apresentações revolucionárias como o iPad. Em meados de 2011, ele anunciou novamente, desta vez, em definitivo, seu afastamento da empresa, depois de passar por um transplante de fígado e ver seu obituário publicado acidentalmente em veículos importantes como a Bloomberg. “Eu sempre afirmei que se chegasse o dia em que eu não fosse mais capaz de cumprir minhas obrigações e expectativas como CEO da APPLE, eu seria o primeiro a informá-los disso. Infelizmente, este dia chegou”, afirmou, em comunicado. Parecia um prenuncio de que o fim estava próximo para um gênio que ajudou a tornar os computadores mais amigáveis e revolucionou a animação, a música digital e o telefone celular.
Exatamente no dia 5 de outubro de 2011 o mito se calou para sempre, aos 56 anos, vítima de um câncer raro e agressivo no pâncreas, contra o qual ele lutava desde 2004, e que o deixou fisicamente debilitado exatamente nos anos de maior sucesso comercial da empresa que criou. Casado com Laurene Powell desde 1991, Jobs deixou quatro filhos: Reed Paul, Erin Sienna, e Eve, nascidos de seu relacionamento com Laurene; e Lisa Brennan-Jobs, de um relacionamento anterior com a pintora Chrisann Brennan. Segundo estimativas, Steve Jobs deixou uma fortuna de US$ 8.3 bilhões. Nas horas seguintes ao anúncio oficial de seu falecimento, feito no site da empresa, milhares de pessoas começaram a publicar mensagens sobre o fundador da APPLE nas redes sociais. Muitas delas mudaram seus avatares para fotos de Jobs no Twitter e no Facebook. Um homem que era conhecido por ter um gênio difícil, que gritava com funcionários ou até mesmo demitia pessoas no elevador porque não respondiam satisfatoriamente uma pergunta, conseguiu com suas idéias e produtos fazer com que todos no planeta se unissem em torno de uma idéia: Stay hungry, stay foolish” (algo como “Não desista nunca”), frase usada em seu famoso discurso de formatura dos alunos da tradicional Universidade de Stanford em 2005. Talvez o presidente Barack Obama tenha melhor definido quem foi Steve Jobs: suficientemente valente para pensar de modo diferente, suficientemente ousado para acreditar que poderia mudar o mundo e com o talento necessário para consegui-lo”. Afinal, sua influência pode ser percebida em toda a parte. Ela está nos computadores e celulares, passando por indústrias inteiras, como a da música, dos filmes, dos livros e dos games.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Lamborghini

 Tudo começou por causa de uma resposta grosseira e malcriada. O fabricante de tratores agrícolas, ar condicionado e calefação, Ferruccio Lamborghini tinha uma Ferrari 250 GT que sofria de problemas crônicos de embreagem. Um dia, reclamou do defeito diretamente com o comendador Enzo Ferrari e foi destratado. “Você não entende nada de carros. Vá dirigir tratores!” teria respondido grosseiramente o fundador da Ferrari. Sentindo-se ofendido ele respondeu: “Eu criarei uma marca melhor que a sua!”. Ferruccio não se deu por vencido. Conta a história que ele consertou a Ferrari de uma vez por todas, usando uma embreagem de trator. Mais do que isso: resolveu fabricar automóveis superesportivos que não descem dores de cabeça e fossem mais dóceis com seus proprietários. Foi então que fundou, no dia 30 de outubro de 1963, a FERRUCCIO LAMBORGHINI AUTOMOBILI. Para sua vingança estar completa, montou sua nova empresa na cidade de Sant’Agata Bolognese, localizada à apenas 17 quilômetros de Modena, sede da montadora Ferrari, e próximo a Bolonha, sede da tradicional Maserati.
O primeiro protótipo da nova montadora foi o 350 GTV (Gran Turismo Veloce), que tinha um motor V12 de 3.5 litros e 360 cv, alcançando 280 km/h, acelerando de 0 a 100 km/h em apenas 6.7 segundos, que fez sua estréia no Salão do Automóvel de Turim. No ano seguinte, o modelo de produção, batizado de 350GT, foi revelado no Salão de Genebra. O carro vinha equipado com um motor V12 de 280 cv de potência, com suspensão independente, câmbio de 5 marchas e freios a disco. Em 1965 a fábrica construía um interessante chassi, chamado de P400 que fez muito sucesso no Salão de Turim do mesmo ano. No inverno, Ferruccio encomendou a Bertone uma carroceria para o modelo. Nascia um dos mais belos automóveis esportivos feitos por este estúdio em todos os tempos: o MIURA P400, desenhado por Marcello Gandini. Miura era uma raça de touro, uma das grandes paixões do fundador da empresa, que lançou muitos automóveis com nomes de raças. A fama da LAMBORGHINI como fabricante de carros espetaculares começava a crescer e conquistar admiradores.Em 1968, o modelo ISLERO 400GT, foi apresentado no Salão de Genebra, com chassi de alumínio, um motor V12 de 320 cv, suspensão independente e freios a disco. O visual surpreendente do modelo Espada (primeiro carro da montadora com capacidade para quatro pessoas) foi outra novidade do mercado apresentada pela LAMBORGHINI. Era baseado no protótipo Marzal do estúdio Bertone e combinava a aparência, desempenho e dirigibilidade de um esportivo com o conforto e luxo de uma perua. O Espada foi um dos carros mais bem sucedidos da LAMBORGHINI. Nos anos 70, o futuro era incerto para a LAMBORGHINI. Sua divisão de tratores fora vendida a Fiat, e ao mesmo tempo, o mercado de automóveis superesportivos andava em baixa por causa das constantes crises do petróleo. Falida a empresa foi entregue a um grupo de investidores suíços, e Ferruccio viveu o resto de seus dias longe de problemas, em uma bela propriedade rural. Ele morreu aos 76 anos de idade em 1993. O modelo Countach, de 1974, foi a última criação da marca sob o domínio de Ferruccio.

No ano de 1977, a montadora desbravava novos caminhos com o lançamento do Cheetah, modelo off-road (fora de estrada) que entrou no mercado dos veículos militares. Quatro anos depois, o LM001, sucessor do Cheetah, começou a ser produzido. Os suíços que passaram a administrar a montadora italiana não demoraram a revender a empresa para o grupo americano Chrysler. A montadora começou então a preparar um motor para equipar carros de Fórmula 1. A estréia nesta competição automobilística ocorreu em 1989, mas nunca alcançou o sucesso esperado.E foi neste tempo que nasceu o superesportivo DIABLO, no ano de 1990. Com um design surpreendente, o superesportivo, mais uma vez, vinha equipado com o motor 4.0 litros V12, chassi tubular, portas que abriam para cima (conhecidas como portas gaivota) e 375 cv de potência. Apesar do sucesso do novo modelo, a Chrysler também começou a viver dificuldades financeiras e, mais uma vez, a LAMBORGHINI teve que ser passada adiante, agora para um grupo da Indonésia, que no fim dos anos 90, se viu em meio a uma grave crise. Novamente parecia que o fim seria inevitável da marca italiana. Aí, aconteceu uma surpresa: a Audi (que atualmente pertence a Volkswagen) comprou a LAMBORGHINI em 1998 e salvou a montadora italiana da falência.


Inicialmente a montadora alemã seguiu produzindo e vendendo o Diablo, mas fazia tempo que a marca não lançava um novo automóvel. No salão de Frankfurt de 2001, exatos 11 anos após a apresentação, o inesquecível modelo Diablo, enfim, ganhou um sucessor: o superesportivo Murciélago. A palavra significa “morcego” em espanhol, mas não tem nada a ver com mamíferos voadores. Murciélago era o nome de um touro tão nobre que, em 1879, foi poupado em uma tourada e transformado em reprodutor. Nos anos seguintes a montadora italiana lançou modelos exclusivos como o Gallardo, o Reventón, e mais recentemente o Aventador, e continua criando superesportivos cobiçados por muitos, mas produzidos para poucos que podem pagar milhões de dólares por suas máquinas indomáveis.
O museu
Inaugurado em 2001, o MUSEU LAMBORGHINI é um espaço que se destina a preservar as preciosidades da marca italiana que nasceu para desafiar a Ferrari. Construído depois que a marca de superesportivos foi adquirida pela Audi, o museu fica localizado ao lado da fábrica, na pitoresca cidadezinha italiana, ou comune, como eles as chamam, de Sant’Agata Bolognese, na província de Bolonha, perto da mítica cidade de Modena, onde fica outra fabricante das mais famosas, a Ferrari. Uma curiosidade: esse pequeno triângulo entre Modena e Bologna é batizado de “Terra dei motori” (Terra de motores).No primeiro piso do museu pode-se encontrar exatamente o primeiro modelo que a empresa criou: o 350 GT. Fabricado entre os anos de 1964 à 1966, esta berlinetta para duas pessoas (2+1, na verdade, mas o espaço para o terceiro passageiro era praticamente inexistente) teve apenas 135 unidades produzidas. Outra jóia da coleção é o 400 GT 2+2, produzido de 1966 a 1968. Com um total de 250 unidades que deixaram a fábrica da montadora italiana, esse belo automóvel, também equipado com um motor V12, mas com 316 cv, conseguia chegar à velocidade máxima de 250 km/h. No mesmo piso também se encontram outros automóveis que marcaram a história da LAMBORGHINI, esses instaurando a tradição de usar os nomes de touros valorosos, conhecidos nas arenas de tourada por sua valentia.
A parte superior do museu é ocupada pelos carros mais recentes da marca, como o GT2 e o Diablo (um dos quais está até pendurado na parede), com seus protótipos, mockups e desenhos originais. Nessa parte é possível apreciar as versões GT, GTR e 6.0 SE, todas já com o dedo da Audi, que resolveu de uma vez por todas os tais problemas de qualidade e confiabilidade que a marca enfrentava. Decorrência dos conhecidos perfeccionismo e disciplina germânica. Ali também estão guardados os veículos de Fórmula 1 que tiveram motores produzidos pela “Casa do Touro” (carinhosos apelido da LAMBORGHINI), como por exemplo, o Lola Larousse de 1989, o Lotus de 1990 e a Minardi de 1993. Outras curiosidades são os motores náuticos da empresa, que, nas palavras dela própria, serve para mostrar que a LAMBORGHINI consegue ser rápida também na água. A entrada para o museu custa cerca de €13.
A Marca 
Ferruccio Lamborghini nasceu no dia 28 de abril de 1916. Era do signo de touro, daí usar o animal como símbolo de sua marca de carros esportivos. O animal está presente, não somente, no logotipo da marca LAMBORGHINI, assim como batiza os modelos produzidos pela montadora desde a década de 60, com o lançamento do MIURA. Depois vieram o DIABLO, MURCIÉLAGO, GALLARDO, AVENTADOR, todos com o temperamento do animal bravio.


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Harley Davidson

Foi de um simples barracão, com três metros de largura por nove metros de comprimento, e em cuja fachada podia se ler o letreiro “Harley-Davidson Motor Company”, na pacata cidade de Milwaukee, estado americano de Wisconsin, que no dia 28 de abril de 1903 foram produzidas as primeiras três motocicletas da marca. Na verdade uma bicicleta reforçada com motor de 3 HP, batizada com o sobrenome dos seus criadores: o desenhista Bill Harley e o engenheiro Arthur Davidson, dois jovens colegas de universidade que enfrentaram o desafio de colocar um sonho em pé; em pé e rodando; rodando e encantando; encantando e apaixonando. Na verdade, o sonho deles era apenas construir uma motocicleta para poder passear; mas se empenharam com tanto amor e comprometimento que mais que realizar um sonho e construir uma moto, eles criaram, de verdade, uma mística. Como o veículo se mostrou bom, eles construíram mais dois exemplares. Dessas três motocicletas, uma foi vendida por US$ 200 diretamente pelos fundadores da empresa para Henry Meyer, um amigo pessoal deles.
Em Chicago, a primeira concessionária nomeada pela marca, C. H. Lang, comercializou outra das três motocicletas fabricadas. No dia 4 de julho, uma moto HD ganha uma corrida de 15 milhas em Chicago. Enquanto isso, na cidade de Milwaukee, o primeiro trabalhador da empresa é contratado em tempo integral. Depois de conseguir um empréstimo bancário, os jovens empreendedores instalaram uma fábrica no centro da cidade. Assim, em 1906, teve início oficialmente a produção de motocicletas apelidadas de Silent Gray Fellow. O nome provinha de Silent (Silenciosa) devido à condução suave que os amortecedores proporcionavam, Gray (cinzenta) pela sua austera pintura e única cor disponível, e Fellow (amiga), que sugeria uma amizade entre o homem e a máquina, pois a motocicleta ganhou reputação de ser uma companheira confiável na estrada. O nome HARLEY-DAVIDSON MOTOR COMPANY foi adotado oficialmente em 17 de setembro de 1907. Foi também neste mesmo ano, sob a presidência de Walter Davidson, irmão de Arthur, que uma motocicleta HD foi inscrita na primeira corrida organizada pela recém-criada Federação Motociclista Americana. A experiência se mostrou um sucesso estrondoso, pois o próprio Walter bateu os oitenta competidores, que representavam pelo menos vinte marcas diferentes.
Em 1909, lançou o lendário motor V-twin, com dois cilindros em “V” e inclinação de 45º. A fabricação desses motores era simples e muitas outras empresas o adotaram. O design foi um sucesso e passou a ser o motor clássico da marca. Cerca de 1.100 unidades da motocicleta HARLEY-DAVIDSON V-8 foram vendidas. Ainda neste ano, a empresa disponibiliza pela primeira vez as peças de reposição para suas motocicletas. A primeira exportação de motocicletas ocorreu no ano de 1912 para o Japão. Nesta época a empresa já possuía 200 concessionárias espalhadas pelos Estados Unidos. Em 1916, o presidente dos Estados Unidos enviou seu principal general numa HARLEY-DAVIDSON para acabar com as estrepolias de Pancho Villa na fronteira mexicana. Antes de cair nas graças dos estradeiros, a HARLEY-DAVIDSON foi usada como meio de transporte na Primeira Guerra Mundial. Algumas delas eram equipadas com “sidecars” tão sofisticados que possuíam armas automáticas acopladas.
Durante o conflito, a empresa recebeu do exército americano uma encomenda de 20 mil unidades. Nesta época a HARLEY-DAVIDSON já era a maior fabricante de motocicletas do mundo, possuindo concessionárias em 67 países e uma produção superior a 28.000 unidades. Além disso, a equipe de corrida da HARLEY-DAVIDSON, que já era conhecida como “The Wrecking Crew” (“Equipe de Demolição”), se tornou tão dominante nas pistas americanas, daí o nome, que adotou um pequeno porco como sua mascote. Assim que a paz se estabeleceu, a marca voltou às pistas em 1921, e se tornou a primeira equipe a vencer uma prova de velocidade a mais de 100 milhas/hora. Nesta década a empresa introduziu muitas inovações, como por exemplo, em 1925, com o tanque de combustível em forma de gota de lágrima (antes era achatado), conhecido como “Teardrop”, marca registrada da HARLEY-DAVIDSON, além de freio na roda dianteira.
A primeira ameaça foi a crise de 1929. No período da Grande Depressão, as vendas despencaram em 20%, fazendo com que a empresa tivesse que mudar a cor original das motos, o verde oliva, para cores mais atuais, como algumas combinações de duas cores no tanque, ou algumas em sólidas cores art-déco com uma águia pintada, fazendo com que a HARLEY-DAVIDSON se adaptasse melhor ao mercado. Durante a Segunda Guerra Mundial, a empresa forneceu 90 mil motocicletas e sidecars para o exército americano, sendo desenvolvido inclusive um modelo especial para os combates. Quando o conflito acabou, o mercado americano emergiu, depois de anos de retração por causa da guerra, e todos aqueles que haviam lutado se tornaram os principais compradores das HARLEY-DAVIDSON, desejando reviver o espírito da lendária motocicleta como civis. Esses veteranos ajudaram a construir o mito HARLEY-DAVIDSON pilotando suas motos com um forte orgulho americano, que, para alguns, seria a lembrança dos amigos que lutaram com eles lado a lado, mas morreram pela liberdade do país.
Em 1946 foi produzida a WR 750 Flathead que se mostrou uma das melhores motos de competição já construídas. Pouco depois, em 1948, as melhorias nos motores 1000 e 1200, fizeram surgir o lendário “Panhead”, um motor de 74 centímetros cúbicos com válvulas hidráulicas e cabeças de alumínio, que levou a produção a atingir 31.163 unidades. Os anos 50 foram tomados pelo espírito das motocicletas HARLEY-DAVIDSON. Como as máquinas deveriam ser cada vez mais potentes, as motocicletas foram se tornando mais leves, perdendo o pára-lama dianteiro e os acessórios. Os guidões começaram a assumir a forma de forquilha. Um novo modelo, conhecido pelo nome de Chopper, tornou-se muito popular. Nesse momento, as HARLEY-DAVIDSON já eram uma instituição americana, aparecendo em filmes como “The Wild Ones” (O Selvagem), protagonizado por Marlon Brando em sua possante e imperial HD no ano de 1954. Nos anos 60, as marcas japonesas, já reestruturadas, ganharam força em todo o mundo e a HARLEY-DAVIDSON sentiu o golpe da concorrência. A Honda lançou os modelos “leves”, enquanto a Kawasaki e a Yamaha entraram no mercado americano. Paradoxalmente, nesse período, a empresa consolidou sua fama internacional, pegando uma carona nos movimentos alternativos que pregavam liberdade, paz e amor. Elas foram, inclusive, as companheiras de Peter Fonda e Dennis Hopper no clássico filme “Easy Rider” (Sem Destino), onde foi apresentado pela primeira vez o modelo HD CHOOPER.
 
Vivendo uma decadência, em 1969, a já mítica empresa foi comprada pela American Machine and Foundry (AMF), que investiu US$ 60 milhões no aumento de produção, exclusivamente para enfrentar as motocicletas japonesas. Mas, apesar das vendas aumentarem e do governo americano entrar na briga contra as rivais japonesas, taxando a importação de motos, a empresa não saiu do vermelho. A produção, na década 70, passou de 15.000 para 75.000 unidades ao ano, atingindo um volume muito alto, mas deixando de lado o mais importante: a qualidade de seus produtos. As motos chegavam a sair da fábrica já vazando óleo. Um negociante de Nova York conta que era impossível sair do lado leste de Manhattan para o lado oeste sem um kit de ferramentas. A qualidade ficava cada vez pior, mas sua demanda continuava alta, até o crescimento das empresas japonesas, que foram responsáveis pela tomada de grande parte do mercado americano e mundial. Em 1981, uma nova tentativa de salvar a marca: treze funcionários se uniram para comprar a marca da AMF. Entre eles, estavam William G. Davidson, neto de William Davidson, Vaughn Beals e Richard Teerlink. Para celebrar esse acontecimento eles fizeram uma viagem de moto da cidade de York à Milwaukee, sede da empresa. A frase “The Eagle Soars Alone” (A águia voa sozinha) se torna o grito de guerra para celebrar a aquisição.
O passo seguinte foi convencer o governo a impor cotas ainda mais pesadas de importação para as motos japonesas, o que lhes deu tempo suficiente para se reerguer: adaptaram-se aos métodos de controle de qualidade e produção de seus concorrentes japoneses, reinventaram seu processo de fabricação e melhoraram o produto. As coisas começaram a melhorar em 1983, com um pequeno e tímido aumento nos lucros. O futuro se mostrava cada vez melhor, e em 1984 a empresa teve um lucro de US$ 3.9 milhões. Três elementos foram fundamentais para esse regresso glorioso: o lançamento de uma nova versão do motor V-Twin, batizada de Evolution, e o trabalho realizado por Willie G. Davidson à frente do departamento de projeto e responsável pela nova imagem da HARLEY-DAVIDSON. Em 1982, a participação da marca no mercado americano era de aproximadamente 15%; em 1997 chegou a 49%, quando a empresa teve vendas recordes atingindo 132 mil unidades no mundo.O uso inteligente da marca permitiu que a empresa ingressasse em novos mercados, comercializando desde roupas, como as tradicionais jaquetas de couro, botas, luvas até desodorantes, perfumes e acessórios com a grife HARLEY-DAVIDSON. Recentemente, com a crise mundial e a queda vertical das vendas, a empresa adotou a estratégia de focar investimento na marca HARLEY-DAVIDSON, encerrando as atividades da marca BUELL e vendendo a italiana MV Augusta. No início de 2011, após uma longa batalha judicial com o antigo distribuidor, a empresa assumiu oficialmente suas operações no Brasil. Dentre as ações a serem realizadas no país, está o plano de nomeação de novas concessionárias da marca, que atendam às necessidades de seus consumidores, oferecendo uma cobertura sólida e de acordo com os padrões mundiais da HARLEY-DAVIDSON.
 A Marca
 
O icônico logotipo da marca HARLEY-DAVIDSON, chamado de “Bar & Shield”, surgiu em 1908, quando foi usado como um adesivo, fixado na caixa de ferramentas encontrada nas motocicletas HD. O nome Bar & Shield vem do formato do logotipo que é constituído por uma barra (bar) onde está escrito o nome HARLEY-DAVIDSON e um escudo (shield) onde se lê “Motor Cycles”. Um pedido de registro da marca no U.S Patent Office com a data de 30 de janeiro de 1930 alega que o “B&S” foi usado e aplicado constantemente pela empresa desde 6 de maio de 1910. A primeira associação com a cor preta e laranja para o logotipo Bar & Shield data de 1922, quando peças e acessórios receberam embalagens com novo design. A versão atual surgiu somente em 1965, substituindo a versão antiga, bem mais alongada.