Conhecido como o “enfant terrible” da moda francesa, Jean Paul Gaultier tem alma de popstar, alçou o estrelato definitivamente quando Madonna empunhou um sutiã de cone em uma turnê mundial e, com sua criatividade e ousadia à flor da pele, é um dos maiores expoentes da moda.
Quando menino, o parisiense Jean Paul Gaultier pouco queria saber dos brinquedos que enchiam os olhos da garotada da época. Queria mesmo era criar bijuterias e acessórios com elementos que achava no lixo. Nada mais natural que nos dias de hoje seja autor de uma frase como “qualquer coisa é bela se vista de forma diferente”.
Isso revela seu espírito transgressor e o precoce talento de unir opostos completos em uma peça de roupa.
Não é à toa que a imprensa e a crítica de moda são unânimes em afirmar que Gaultier foi o responsável por levantar a discussão sobre o limiar entre o bom e o mau gosto por meio da prática da subversão.
Depois de enviar seus desenhos para todos os importantes estilistas da época, no dia do seu aniversário de 18 anos, em 24 de abril de 1970, recebeu um contato da maison Pierre Cardin: o autodidata Jean Paul Gaultier havia conseguido seu primeiro emprego com um dos mais importantes criadores da época.
No ano seguinte, uma rápida passagem por Jacques Esterel (o criador responsável pelo famoso vestido de casamento com o ator Jacques Charrier, em 1959) e então voltou a trabalhar com Cardin em 1974 para cuidar da loja do estilista francês nas Filipinas, onde chegou a desenhar para a primeira-dama do país e mulher do ditador Ferdinand Marcus, Imelda Marcos.
E, finalmente, em 1976, já de volta a França, Gaultier assina a sua primeira coleção e no ano seguinte abre a sua maison.
O nome de Gaultier ficará para sempre gravado na história da moda como um estilista que rompeu conceitos há muito estabelecidos. Nos anos 80, deixou aparente a lingerie, trazendo-a do interior para o exterior.
E, em 1988, recriou a tradicional construção do traje masculino, ao propor saia para os homens, inspirado no kilt, o traje típico dos escoceses.
Uma imagem dessa revolução lhe valeu, seis anos depois, o lugar no pôster principal de uma badalada exposição no Metropolitan Museum de Nova Iorque com o título Coração valente: homens de saia, com imagens e peças de top estilistas do Planeta fashion, entre eles Jean Paul Gaultier.
Em 1990, seu talento recebeu a coroação final ao ser ungido pela deusa máxima do pop, Madonna, que o elegeu como o estilista de sua turnê Blond ambition (do inglês, “ambição loira”). Graças a sua intimidade com a subversão, Gaultier trouxe a lingerie à mostra e imortalizou em Madonna o corpete com os bojos cônicos, imagem que ficou registrada como um dos ícones do final do século.
Esse foi apenas o início da parceria da loira com o criador, que muito rendeu - inclusive um pedido de casamento. Em 1995, Gaultier revelou à imprensa que, por várias vezes, teria proposto matrimônio à popstar, que lhe disse: “sim, Jean Paul, eu me casarei com você porque é o único homem que não me fez sofrer”. Quando questionado pela imprensa porque a idéia de matrimônio não teria sido levado à frente, Gaultier inteligentemente retrucou: “um dia, nos casaremos de verdade, o que acontece é que ainda não criei um vestido de casamento adequado".
Brincadeiras à parte, por duas temporadas, Madonna brilhou em desfiles do amigo. E, de acordo com a sua postura polêmica da época, sempre causando furor.
Outro ponto alto na carreira de Gaultier foi a sua entrada no mundo da alta costura. Em 1997, ano em que completava duas décadas de sua marca própria, debutou no topo do mundo da moda e, ao lado de seu contemporâneo e também brilhante estilista, o francês Thierry Mugler, se celebrizou por renovar o mundo da alta costura, com desfiles performáticos e inesquecíveis.
Gaultier também tem um toque de Midas para o universo dos cosméticos. Vários de seus perfumes são recordes de vendas por anos seguidos. O primeiro, feminino, foi lançado em 1993 e a embalagem remete ao corpete criado para Madonna.
O masculino Le Male (1995) arrasou quarteirão: ainda é best-seller na Comunidade Européía.
Tal sucesso impulsionou o lançamento não apenas de cosméticos, mas também de uma linha de maquiagem para homens. Delírio para modernos e metrossexuais.
lém das passarelas, Gaultier também deu um show nas telas. Fez o figurino de filmes marcantes de cineastas de muita personalidade e que entraram para a história do cinema não apenas pela genialidade da obra, mas também pelas roupas especialíssimas.
Começou com O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante (1989), uma deliciosa experiência visual do diretor inglês Peter Greenway. Kika (1994), do espanhol Pedro Almodóvar, foi a próxima aventura do criador francês nas telonas.
E, mais uma vez, deixou a marca de sua genialidade ao vestir Andrea Caracortada, a personagem encarnada pela atriz espanhola Victoria Abril. Em 1997, cuidou dos croquis da divertida e meio caricata ficção cientifíca do francês Luc Besson, O quinto elemento.
Com 16 lojas próprias e centenas de pontos-de-vendas em luxuosas lojas de departamento pelo mundo afora, a corporação Gaultier faturou US$ 10 milhões no ano passado e, em 1999, teve 35% de suas ações vendidas à maison francesa Hermes, em uma transação de US$ 26 milhões.
Em 2003, aceitou o convite da Hermés e assumiu a direção criativa da casa de moda, primeira vez na sua carreira que desenharia para outra marca. Gaultier repaginou a estética tradicional da marca e tem sido muito elogiado pela imprensa, que considera a sua ligação com a Hermès tão próspera quanto a de Karl Lagerfeld com a maison Chanel, além do ótimo retorno financeiro que vem gerando para seus sócios.
A genialidade de Gaultier também assina os óculos de sua recém-lançada coleção de armações de receituário e modelos solares pela De Rigo, que no Brasil e representada pela Wilvale. Todas as peças têm um toque muito particular, pronta para agradar em cheio o público fashionista.
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