Tudo
começou em 1948 na pequena cidade alemã de Herzogenaurach,
encravada no coração da Francônia, depois que Rudolf Dassler
brigou com seu irmão, Adi, que pouco depois fundaria a Adidas, e
resolveu encerrar a sociedade em uma pequena fábrica de calçados
esportivos e fundar no dia 1 de outubro a PUMA
Schuhfabrik Rudolf Dassler (Rudolf
Dassler Shoe Factory), uma empresa para produção de artigos
esportivos, então com apenas 30 funcionários. A recém-criada marca
lançou no mercado a chuteira ATOM, iniciando assim um relacionamento
duradouro com o futebol. Dois anos mais tarde a PUMA já exportava
seus produtos para os Estados Unidos. Na década de 50 a marca
conseguiu enormes feitos como em 1952, quando o atleta Joseph Barthel
de Luxemburgo ganhou a primeira medalha olímpica em Helsinki
vestindo equipamento PUMA; e dois anos depois, em Yokohama no Japão,
quando Heinz Fütterer estabeleceu novo recorde mundial para o 100
metros utilizando tênis da marca alemã. Estes feitos consolidaram a
marca PUMA no segmento do atletismo. Em 1958, mesmo ano em que
surgiram as tradicionais listras em forma de onda, Abundantemente
utilizadas em suas chuteiras e calçados, e que se tornariam um dos
símbolos da PUMA, as seleções de Brasil e Suécia vestiam a marca
na disputa da Copa do Mundo. Era a prova do sucesso. No ano seguinte
a empresa passou a se chamar oficialmente PUMA-Sportschuhfabriken
Rudolf Dassler KG.
Na
década de 60 tornou-se a primeira marca esportiva a utilizar a
técnica de produção de vulcanização. Isto resultou em um novo
processo para fabricar chuteiras, o qual unia o solado às travas de
uma maneira mais eficiente e durável. O processo tornou o produto
tão bom que quase 80% das outras fábricas adotaram o processo
criado pela empresa. Em 1962 a PUMA já exportava seus produtos para
cerca de 100 países em todos os continentes. As chuteiras da marca
conseguiram grande reconhecimento durante a Copa do Mundo de 1962, no
Chile, e 1970, no México, quando o Brasil foi campeão. Pelé foi
eleito melhor jogador da competição e usava chuteiras da marca
alemã para fazer jogadas e gols que encantaram o mundo. Em 1974 com
a morte de Rudi seus filhos, Armin e Gerd, assumiram o comando da
empresa.
Outro
feito de grande reconhecimento para a marca aconteceu em 1976 quando
o tenista argentino Guillermo Villas conquistou os torneios US Open e
Rolland Garros vestindo tênis PUMA. Ou ainda quando em 1982, Diego
Maradona, disputou sua primeira Copa do Mundo utilizando chuteiras da
marca, especialmente desenhadas para ele. Isto sem falar, que três
anos depois, o tenista alemão Boris Becker venceu o torneio de
Wimbledon usando uma raquete da marca PUMA. Ainda neste ano ingressou
na NBA tendo nomes como Isiah Thomas e Buck Williams como atletas
patrocinados que endossavam seus produtos e arrastavam uma multidão
de jovens para se tornarem fãs da marca.
Apesar
de tudo isso, no início dos anos 90, a marca PUMA não possuía mais
nenhuma relevância dentro ou fora da Alemanha. Encontrava-se à
beira da falência e seus produtos eram vendidos em grandes
liquidações de redes populares. “A
marca está totalmente fora”. “Calçados e blusinhas estão sendo
vendidas a preço de banana nas lojas”. “Puma novamente no
vermelho”. “Três presidentes foram despachados em três anos”.
“A concorrência americana ganha força e quer tirar a marca das
prateleiras, inclusive na Alemanha”.
Foram com estas frases que o jornal Die Zeit definiu situação em
que a empresa se encontrava no final de 1992, quando atravessava sua
pior crise. Até que em 1993, Jochen Zeitz, um jovem de 30 anos
egresso da área de marketing, assumiu o comando da empresa. A marca
alemã estava no vermelho havia sete anos. Naquele momento, as
dívidas já somavam mais de US$ 100 milhões. O jovem executivo
cortou despesas e pessoal, fechou fábricas na Alemanha, terceirizou
a produção para empresas na Ásia, negociou com os credores e, já
no ano seguinte, conseguiu trazer a empresa de volta ao lucro.
Em
1996, a Monarchy Regency, na época uma das maiores distribuidoras e
produtoras de filmes de Hollywood, já havia comprado 12% da empresa
alemã. A associação foi fundamental. Permitiu que a PUMA
conseguisse inserções de seus produtos em roteiros de filmes como
“Uma Linda Mulher” e “JFK”, além de seriados americanos de
sucesso como “Friends” e “Will and Grace”. A resposta foi
imediata. Em 1998 a PUMA se uniu à americana LogoAthletic, uma
fabricante de roupas de esporte e fornecedora de uniformes para a
Liga Nacional de Futebol Americano (NFL). A partir deste momento, a
PUMA passou a fornecer uniformes não somente para nove times de
basquete da liga profissional norte-americana (NBA), mas também para
13 equipes da NFL, tornando-se uma das quatro empresas que equipavam
os times. Após arrumar as finanças, o executivo deu início a uma
nova e decisiva etapa: re-posicionamento da marca no mercado. Era o
início do inédito “casamento” entre a moda e o esporte, criando
uma imagem de grife de estilo de vida (lifestyle). Ele direcionou
quase 70% dos lucros para as áreas de marketing, pesquisa e
desenvolvimento. Com produtos de design mais arrojado em mãos,
publicou anúncios em revistas de moda como a Vogue e firmou parceria
com a estilista alemã Jil Sander e a supermodelo americana Christy
Turlington, que lançou uma coleção de roupas para a prática de
ioga com o seu nome.
As
vendas globais passaram a crescer a um ritmo de 30% ao ano. Em 1999
inaugurou sua primeira loja própria, com o objetivo de identificar e
transmitir aos consumidores o universo PUMA, na cidade de Santa
Monica, estado da Califórnia. A PUMA continuou crescendo, ampliando
seu mercado, as áreas de atuação e inaugurando novas lojas
próprias em cidades cosmopolitas e ricas culturalmente, como
Londres, Roma, Tóquio, Milão, Boston, Frankfurt, Seattle e
Melbourne. Novos contratos foram firmados com atletas, equipes de
diversos esportes e escuderias para o fornecimento de trajes e
equipamentos. Neste momento a PUMA já se transformara em um ícone
fashion, não só elevando seu faturamento, mas também fazendo de
seu nome e imagem uma marca mundialmente conhecida. O grande mérito
de Jochen Zeitz foi disputar mercados nos quais nunca uma grife de
equipamento esportivo havia competido, convocando estilistas de
renome internacional para criar linhas premium e tornar as roupas
esportivas usuais no dia a dia, associando a imagem da PUMA com
eventos badalados como a Fórmula 1, motociclismo, golfe e, por
último, regatas náuticas como a Volvo Ocean Race, onde participação
da PUMA visa reforçar a expansão em novas categorias de produtos,
no caso, materiais esportivos para iatistas, assim como reforçar o
reconhecimento e visibilidade da marca em todo o mundo. Especialmente
para a competição a empresa desenvolveu a PUMA CITY, grande loja
itinerante de três andares formada por 24 côntainers construído na
China e montado pela primeira no porto de Alicante, na Espanha, em
2009.
O
marketing
Um
fato marcou para sempre a história da PUMA, apresentando de vez a
marca do felino para o mundo. Pelé havia sido campeão mundial em
1958 e 1962 utilizando chuteiras da marca e assinara com a PUMA um
contrato de US$ 100 mil por quatro anos, além de US$ 25 mil
exclusivos pelo Mundial do México e direito a 5% de royalties nas
vendas dos tênis e chuteiras. Porém, um episódio colocaria a marca
no mapa mundial dos esportes. O juiz belga Vital Loraux já levava o
apito à boca. Preparava-se para autorizar o pontapé inicial do jogo
entre Brasil e Peru, no Estádio de Jalisco, em Guadalaraja, no
México. Era 14 de junho de 1970. Pelé, com a autoridade de quem já
era o rei do futebol, pediu um minuto. Abaixou-se, afrouxou os
cadarços das chuteiras PUMA, número 39, e voltou a atá-los.
Imediatamente (e inocentemente) todas as câmeras focalizaram o pé
do Rei por 30 infindáveis segundos e a listra branca que na época
identifica a PUMA. O retorno foi imenso, uma vez que a Copa do Mundo
foi a primeira a ser transmitida ao vivo. Afinal, por infindáveis
segundos a marca alemã foi vista por pelo menos 200 milhões de
pessoas, ao vivo.
Depois
de Pelé, viria o português Eusébio, o holandês Johan Cruijff, o
argentino Diego Maradona, um dos principais atletas da marca alemã
durante muitos anos, e outras estrelas do futebol como Enzo
Francescoli, Lothar Matthäus, Kenny Dalglish, Didier Deschamps,
Kenny Dalglish, Hristo Stoichkov, Rudi Völler e Paul Gascoigne.
Atualmente os principais jogadores patrocinados pela marca alemã
são: o camaronês Samuel Eto’o, o goleiro italiano Gianluigi
Buffon, o francês Nikolas Anelka e o alemão Mario Gómez. A marca
alemã também é patrocinadora das seleções de futebol da Itália,
Gana, Uruguai, Suíça, Argélia, Camarões, Costa do Marfim; além
de grandes clubes, como Tottenham Hotspur, Newcastle United,
Sporting, Monaco, Bordeaux, Stuttgart, Lazio, Peñarol, Olympiakos e
Villarreal.
Porém,
nem somente de futebol vive a PUMA. Em 1977, o argentino Guillermo
Villas ganhou Roland Garros, Aberto dos Estados Unidos e Aberto da
Austrália vestindo tênis e utilizando raquete da marca alemã; e,
em 1985, o alemão Boris Becker venceu o torneio de Wimbledon
utilizando tênis da marca. Além disso, a tenista Martina
Navratilova se tornou uma das mais importantes garotas-propaganda da
marca. Desde 1998 patrocina equipes de F1. A sapatilha
Future Cat,
com os logotipos da Ferrari e da marca alemã, confeccionada em
vermelho e branco, nos modelos cano alto e baixo, são um verdadeiro
sucesso de vendas. As sapatilhas PUMA já são tradicionais nas
equipes de F1. A primeira foi usada por pilotos e equipes nos anos 70
e início dos anos 80. A parceria entre Ferrari e PUMA aumentou em
2005, quando foi assinado um contrato de licenciamento para venda de
material com a marca da tradicional escuderia italiana. Hoje em dia,
também a Red Bull tem contrato com a PUMA. Em termos de atletas, a
marca alemã é campeã de exposição firmando patrocínio com
ídolos como Serena Williams (tênis) e Usain Bolt (atletismo), este
último seu principal atleta no momento, que recebe US$ 1.5 milhões
da empresa anualmente.
Outra
cena memorável que imortalizou a marca PUMA ocorreu recentemente: o
jamaicano Usain Bolt se agacha, olha pra frente concentrado na linha
final e dispara ao som do tiro de largada. Nove segundos e 69
centésimos depois, o atleta abre os braços e se consagra como o
homem mais rápido do mundo. Antes mesmo de comemorar, saca a
bandeira da Jamaica e, como se estivesse segurando um troféu,
carrega suas sapatilhas douradas (com o felino saltitante estampado),
uma em cada mão, e as alça para o alto. A cena, acompanhada por 1.2
bilhões de pessoas em todo o mundo, aconteceu no dia 16 de agosto de
2008, durante os Jogos Olímpicos de Pequim, e ainda traz dividendos
para a empresa, que ganhou tanto quanto Bolt - dono de três medalhas
de ouro nos jogos. A PUMA havia apostado no jovem atleta bem antes de
ele ser conhecido. Agora, a marca alemã colhe os louros da ousadia
de apostar em um atleta desconhecido e jovem.
Família
A
Segunda Guerra Mundial deixou cicatrizes profundas na Alemanha. Na
pequena cidade de Herzongenaurach, ao norte de Nuremberg, o legado
foi uma disputa em família. Terminado o conflito a família Dassler
começou a presenciar outra guerra. Os irmãos Adi e Rudolf romperam
a sociedade que possuíam em uma pequena fábrica de calçados e
foram tocar a vida separadamente. Mas porque os irmãos se separaram?
Adi recusou-se a acatar as orientações do nazismo de Hitler, nos
anos 30. Rudi colaborou, fez campanha política, foi à guerra e até
chegou a ser julgado depois de terminado o conflito. Adi criou então
a Adidas. Rudi inventou a PUMA. Um pôs seu negócio na margem
esquerda do rio Aurach. O outro, na margem direita. A rivalidade
cresceu chegando a ponto dos habitantes da cidade andar olhando para
o chão de modo a identificar a marca dos calçados que cada um
vestia. A cidade dividiu-se em dois grupos, uns não podiam casar com
outros, chegando até frequentarem restaurantes diferentes. Nem com
a morte de ambos os irmãos a rivalidade e ódio diminui. No
cemitério local, os túmulos também estão afastados. Até hoje, os
mais velhos lembram do que ocorreu. Adi recusou-se a acatar as
orientações do nazismo de Hitler nos anos 30. Rudi colaborou, fez
campanha política, foi a guerra e até chegou a ser julgado depois
dos combates. A guerra de uma família passou para as esferas
comerciais e esportivas.
A
Marca
A
empresa foi primeiramente batizada de Ruda, um acrônimo formado
pelas duas letras iniciais do nome (Rudolf) e sobrenome (Dassler) de
seu fundador. A denominação teria permanecido assim se não fosse o
comentário de um amigo de Rudi. Ele disse que o termo “Ruda”
soava estranho, meio sem sentido. Rudolf concordou e resolveu mudar a
marca para PUMA, uma palavra com som bastante parecido e que ainda
tinha a vantagem de se referir ao simbólico felino nativo do
continente americano.
Dificilmente
hoje em dia o felino saltador, tradicional logotipo e símbolo da
marca alemã, não seja reconhecido em alguma parte do mundo. Em sua
primeira versão o felino, com traços bem rústicos, saltava por
entre a letra D que existia acima da palavra PUMA. A letra D contida
no logotipo original da marca tinha uma explicação: era a inicial
de Dassler, sobrenome do fundador da empresa. E foi somente em 1968
que surgiria o símbolo do felino como conhecemos nos dias de hoje,
chamado “Leaping
Cat”.
A marca está presente em mais de 120 países produzindo
acessórios esportivos, relógios, roupas e perfumes, com vendas
anuais de €2.7 bilhões. A marca possui ainda mais de 190 lojas
próprias espalhadas pelas principais cidades cosmopolitas do mundo.
A marca pertence atualmente ao conglomerado de luxo PPR Group
(Pinault Printemps Redoute) do francês François Pinault. Hoje a
PUMA é uma “coolbrand” sport-fashion com lojas conceituais e
modernas, design premiado e dirigida a um público disposto a pagar
mais por produtos de qualidade e beleza. Os calçados representam
aproximadamente 52.6% do faturamento da empresa, seguidos pelas
roupas (34.8%) e acessórios (14.9%). Além disso, a marca fatura
mais de €150 milhões com licenciamento de produtos como relógios,
perfumes e óculos.
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