Tudo
começou no início dos anos 80, quando o austríaco Dietrich
Mateschitz, hoje proprietário da RED BULL, costumava viajar pelo
continente asiático à negócios. Em uma de suas viagens, enquanto
executivo de marketing de uma empresa alemã de cremes dentais,
descobriu, casualmente, na Tailândia, um líquido que continha,
entre outras substâncias estimulantes, altas doses de cafeína e
taurina. A bebida chamada “krating
daeng” (que
significa justamente RED BULL em inglês), e inventada por Chaleo
Yoovidhya, era muito popular entre motoristas de táxis, submetidos a
jornadas de trabalho extenuantes. Um deles, ao apanhá-lo no
aeroporto, garantiu: “um
copo disso e seu cansaço vai embora”.
Com seu faro para bons negócios, o empreendedor voltou para a
Áustria levando uma pequena amostra desses compostos, o apoio de
Chaleo Yoovidhya (que faleceu recentemente, no dia 17 de março de
2012) e uma grande ideia na cabeça.
Começou
então a árdua tarefa de conseguir a aprovação para comercializar
o conteúdo da bebida, pois se tratava de um produto desconhecido com
uma dose de cafeína três vezes maior do que um refrigerante comum.
Sua visão clara sobre o que fazer e seu conhecimento científico
sobre o produto foram muito importantes no desenvolvimento deste novo
tipo de bebida. Depois de uma espera de três anos para obter a
licença para a fabricação do produto no país, surgia uma bebida
energética gaseificada chamada RED BULL, lançada em 1987 no mercado
austríaco.
A
embalagem teria que diferenciar o produto de outras bebidas. Para
tal, contratou uma empresa de alumínio para fabricar latas de um
tamanho pequeno, mas especial, com um rótulo de duas cores (azul e
prateado), fácil de identificar entre outras embalagens do mesmo
tipo nas prateleiras dos supermercados e lojas de conveniência. Uma
lata de 250 ml de RED BULL continha 20 gramas de açúcar, 1.000mg de
taurina, 600mg de glucuronolactona, 80mg de cafeína e vitaminas do
complexo B. A empresa foi a primeira a utilizar no mercado o termo
“Energy Drink”.
O sucesso foi tão grande, mais de 1 milhão de lata vendidas, que
além de chamar a atenção e a curiosidade das pessoas, trouxe
algumas dúvidas sobre o novo produto. Por isso, o lançamento de RED
BULL foi acompanhado por intensos testes científicos e pesquisas
médicas. Todos estes estudos confirmaram os efeitos positivos do
produto e a segurança total de seus ingredientes. Em 1989 foi
exportado pela primeira vez para Cingapura, e em 1992, para a
Hungria. Logo depois já se fazia presente em todos os países
europeus. E no final da década a bebida chegou aos Estados Unidos
(1997) e ao mercado brasileiro (1998). Somente em 2003 o produto
ganhou uma nova versão: o RED
BULL SUGAR-FREE
(sem adição de açúcar), lançado em 40 países ao redor do mundo.
Em
2008, a marca expandiu seu portfólio para outra categoria de produto
pela primeira vez com o lançamento do RED
BULL COLA, um
refrigerante de cola com ingredientes totalmente naturais (entre eles
noz de cola, que tem gosto amargo, grande quantidade de cafeína e
folha de coca), sem adição de conservantes e outros aditivos
sintéticos. Apesar de mais uma vez ter encontrado barreiras na
aprovação das autoridades e comercialização, o novo produto pode
ser encontrado na Áustria, Estados Unidos, Rússia, Suíça, Reino
Unido, Irlanda e Itália. Ainda neste ano, finalmente RED BULL foi
lançado no mercado francês, isto porque, até então só podia ser
comercializado em farmácias por causa da substância taurina, e a
empresa não queria que o produto fosse vendido ou taxado como
“remédio”. Outra novidade da marca, lançada em 2009, como teste
de mercado, foi o RED
BULL ENERGY SHOT,
um energético com altas doses de cafeína e taurina, capaz de dar
energia por horas. Ou seja: muito mais cafeína em uma quantidade
menor de líquido. Além disso, nos últimos anos a marca vem
diversificando suas opções de embalagens com o lançamento das
latas de 355ml e 473ml em alguns mercados onde está presente.
Recentemente
a empresa anunciou que parte de sua produção virá para Manaus,
onde a fabricante de bebidas energéticas investirá R$ 509 milhões
em três anos para construir sua primeira fábrica fora da Europa. A
nova unidade - a terceira da empresa no mundo - terá capacidade de
produção de 64 milhões de litros (ou 206 milhões latas) em seu
primeiro ano de funcionamento.
O
Marketing
Sua
fórmula não está protegida por patentes. Todas as grandes empresas
do mundo, entre elas a poderosa The Coca-Cola Company, lançaram
concorrentes, sem, no entanto, ameaçar a hegemonia da marca RED BULL
na maioria dos países onde atua. Mais: a principal sustentação do
produto não se encontra em suas difusas propriedades energéticas,
sintetizadas no posicionamento “RED
BULL revitaliza o corpo e a mente”
ou no slogan “RED
BULL te dá asas”
(“Red Bull Gives You Wings”), traduzido nos 160 países onde a
bebida é comercializada. Sua força reside em um marketing
agressivo, inovador e surpreendente, dirigido para consumidores
jovens, abaixo dos 30 anos. O logotipo dos dois touros vermelhos
aparece em campanhas de massa apenas eventualmente. A RED BULL não
gosta de dividir patrocínios. Por isso, na Fórmula 1, onde em 2010
e 2011 conquistou os títulos de construtores e pilotos (com o alemão
Sebastian Vettel), possui equipes próprias: a RED
BULL RACING
(conhecida como RBR) e a SCUDERIA
TORO ROSSO
(conhecida como STR). E na Nascar, categoria de automobilismo mais
popular dos Estados Unidos, possui outra equipe, a RED
BULL TEAM.
No futebol, montou quatro times, um na Áustria (Fussball
Club Red Bull Salzburg),
um nos Estados Unidos (Red
Bull New York),
um na Alemanha (RB
Leipzig)
e mais recentemente outro no Brasil (Red
Bull Brasil,
confederado na Federação Paulista de Futebol). E no hóquei no gelo
possui o Red
Bull Salzburg
(Áustria).
Mas
a preferência é por eventos esportivos exclusivos da marca,
necessariamente mirabolantes e que atraiam grandes multidões e a
alta atenção da mídia. Pode ser uma prova de mountain bike no
interior de Minas Gerais. Ou uma corrida de motocross em uma praça
de touros no México. Ou ainda uma corrida de aviões, a RED
BULL AIR RACE,
única no mundo, nos céus de grandes cidades, como Barcelona ou
Budapeste, cujo público sempre supera um milhão de pessoas. Ou até
mesmo a RED
BULL PAPER WINGS,
um campeonato mundial de aviões de papel disputado em três
categorias (maior tempo de voo, maior distância e acrobática)
acompanhado com entusiasmo por milhares de jovens no mundo, e cujo
campeão, por duas ocasiões (2006 e 2009) foram brasileiros, Diniz
Nunes e o paulistano Leonard Ang.
A
RED BULL também patrocina esportistas importantes que se dedicam à
prática profissional de esportes radicais como snowboard, esqui,
escaladas, ultraleve, kitesurfing, surfe, Fórmula 1, entre outros.
No total, são mais de 600 atletas patrocinados pela empresa em todo
o mundo. Além disso, a marca apoia e patrocina atividades como o
skating urbano, ciclismo e patinação, praticados por jovens
descolados, ou seja, modernos. Um dos garotos propaganda preferidos
da RED BULL é o homem-voador
Felix Baumgartner.
O paraquedista já sobrevoou o Canal da Mancha com uma “Asa Red
Bull” na tentativa de bater o recorde mundial de distância (35 km)
e saltou do prédio mais alto do mundo, o Petronas Tower (468
metros), na Malásia, sempre vestido com um traje alado. No Brasil,
ficou famoso em 1999, quando pulou do Cristo Redentor. O mundo
inteiro estampou as fotos das peripécias do aventureiro e
consequentemente o logotipo da RED BULL. Exatamente no dia 14 de
outubro de 2012 o homem-voador mais uma vez surpreendeu: quebrou a
velocidade do som e realizou o salto em queda livre mais alto do
mundo (38.867 quilômetros, com queda livre de 4:19 minutos de
duração – o salto inteiro durou 9 minutos). O projeto, batizado
de RED
BULL STRATOS e
totalmente patrocinado pela marca, quebrou quatro recordes mundiais:
o do salto mais alto, o primeiro homem a quebrar a barreira do som, o
voo mais alto à bordo de um balão e o evento mais assistido em
streaming de todos os tempos, foram mais de oito milhões de pessoas
vendo o feito no Youtube.
Outro
exemplo da agressividade da marca no marketing ocorreu em 2008,
quando a tradicional Piazza San Marco, em Veneza, na Itália, sofreu
uma inundação, e o surfista Duncan Zuur, patrocinado pela RED BULL,
“pegou uma onda” na enchente e surfou até a polícia chegar e
acabar com a festa. O “feito” ganhou os jornais do mundo inteiro
e só na Internet o vídeo foi visto mais de um milhão de vezes.
Outro
fator que contribuiu para o sucesso da marca foi a boa e agressiva
distribuição do produto, além das ações promocionais de
amostragem. Nas faculdades, recrutam estudantes (chamados SBM -
Student
Brand Manager) para
representar a marca junto aos jovens, que são responsáveis por uma
área específica do marketing da empresa chamada Consumer
Collecting. Dependendo do país, a RED BULL dispõe de carros
(geralmente dos modelos VW New Beetle e Mini Cooper) pintados com o
logotipo da marca e com uma enorme lata do energético na capota que
circulam conduzidos geralmente por estudantes (que fazem parte do MET
- Mobile
Energy Team) em
locais onde os jovens costumam se reunir, para promover e distribuir
gratuitamente o produto. A bebida pode ser encontrada também em
bares e discotecas, o que não é muito positivo para a publicidade
do produto, em virtude da sua associação ao álcool e às drogas.
Porém, trata-se de um fato que fugiu completamente do controle da
empresa. Por tudo isso, aproximadamente 35% de seu faturamento é
reservado para investimentos em marketing.
Red
Bull Air Race
A
RED
BULL AIR RACE
é uma competição eletrizante em que os pilotos mais talentosos do
mundo desafiam uns aos outros em uma fantástica corrida aérea de
velocidade, onde a precisão e a habilidade são fundamentais. A
competição apresenta uma nova e dinâmica categoria de pilotagem
conhecida por “Air Racing”, onde o objetivo é seguir uma rota
cheia de desafios no céu fazendo o menor tempo possível. Voando
sozinhos contra o relógio, os pilotos devem executar giros apertados
em um circuito slalom que consiste em mastros ou pilões
especialmente projetados, chamados de “Air Gates”. Voar perto do
chão a velocidades que podem alcançar até 400 km/h enquanto
difíceis manobras são feitas requer uma habilidade imensa que
apenas certo número de pilotos no mundo possui. Por isso eles são
selecionados a dedo de acordo com suas perícias e experiência.
Esses pilotos estão no auge de suas carreiras. E têm mesmo que
estar: a competição exige muito de suas habilidades de pilotagem.
Para ter uma ideia, eles têm que suportar forças de até 10G. Não
há espaço para erros. O que faz o Air Race tão eletrizante e
interessante para os espectadores é a proximidade com a multidão.
Voos baixos e rasantes em uma rota relativamente compacta dão às
pessoas um gostinho da emoção de perto. A criação do Air Race foi
idealizada pela RED BULL, que convidou o renomado piloto húngaro
Peter Beseynei para ajudar a definir o conceito do evento.
O
primeiro RED BULL AIR RACE aconteceu no Air Power em Zeltweg na
Áustria em 2003. O evento foi um enorme sucesso. Estava claro que a
competição tinha enorme potencial. Os eventos subsequentes
aconteceram na Hungria, Inglaterra e Estados Unidos e seguiram uma
evolução até chegarem ao formato atual: o RED
BULL AIR RACE WORLD CHAMPIONSHIP.
A primeira série mundial começou em 2005, acontecendo em sete
lugares diferentes do mundo com 10 pilotos aclamados
internacionalmente competindo. 11 pilotos participaram da edição de
2006 em 9 localidades internacionais espetaculares, quando o
americano Kirby Chambliss ganhou o título de campeão mundial na
etapa final em Perth na Austrália. Em 2007 o Brasil ganhou uma etapa
tendo a Baía de Guanabara na cidade do Rio de Janeiro como palco da
disputa. A última edição da corrida foi disputada em 2010, e a
competição deverá retornar em 2014 com novas medidas de segurança.
Flugtag
A
palavra “Flugtag” em alemão significa o “dia do voo”. O
primeiro RED
BULL FLUGTAG
(ou Dia de Voar) aconteceu na cidade de Viena na Áustria em 1992 e
não passava de um concurso de geringonças voadoras que eram
arremessadas na água. Desde então, o sonho de voar com máquinas
caseiras se espalhou pelo mundo. Da Irlanda para os Estados Unidos,
da Itália para a República Tcheca, da Alemanha a Portugal e
recentemente para o Brasil. É um evento para todos aqueles que amam
aventura, têm inspiração, senso de humor e interesse em mostrar
suas habilidades e criatividade em invenções através de engenhocas
(muitas vezes um misto de carro alegórico com asa delta). A ideia é
reunir aventureiros dispostos a encarar o desafio de projetar e
construir máquinas voadoras. O que conta é a originalidade,
criatividade e desempenho de voo. Até hoje mais de 35 eventos foram
realizados com a participação de 300.000 pessoas. O recorde de voo
mais longo registrado até agora é de 65 metros.
O
Templo dos Touros Vermelhos
Só
pode ser louco! É assim, em tom crítico, mas com indisfarçada
admiração, que muitos austríacos olham para um dos mais recentes
feitos do empresário Dietrich Mateschitz: o HANGAR-7,
localizado no aeroporto de Salzburgo na Áustria e melhor tradução
da estratégia de marketing da marca RED BULL. Ao olhar para a
imponente estrutura elíptica de aço e vidro fica mais fácil
entender como o criador da bebida energética RED BULL se tornou o
mais famoso morador da cidade desde Wolfgang Amadeus Mozart, nascido
há mais de 250 anos. O HANGAR-7 é uma espécie de templo para o
culto aos dois touros vermelhos estampados nas latinhas do famoso
energético. Para fazer jus ao slogan “RED BULL te dá asas”, a
empresa estaciona no HANGAR-7 uma coleção de 17 aviões, entre
bombardeiros, caças da Segunda Guerra Mundial e jatos de
treinamento, como por exemplo, o B-27 Mitchell, de 1945, todos em
perfeitas condições de voo. Aproximadamente 180 mil visitantes
passam todo ano pelo local, também para conhecer outras paixões do
empresário, como os carros de Fórmula 1 das equipes patrocinadas
pela marca, motocicletas alucinantes, exposições de arte
contemporânea e apresentações de música ao vivo. Tudo circundado
por passarelas de vidro.
O
local possui também salas reservadas, atribuindo um lado de
exclusividade ao ambiente. Em dois bares futuristas (um deles na
cobertura) são servidos coquetéis à base do energético e o
restaurante Ikarus recebe os clientes que não se incomodam com a
fila de espera de até três semanas por uma mesa. Os pratos mudam a
cada mês, de acordo com um programa que prevê um rodízio constante
de chefs internacionais renomados e talentosos. Pouco conhecido do
público é o HANGAR-8, uma garagem menor onde são recuperados os
modelos recém adquiridos pela FLYING BULLS, subsidiária criada
especialmente para administrar a frota e organizar a única corrida
de aviões do mundo, a RED BULL AIR RACE.
O
Gênio por Trás da Marca
Todo
este sucesso da RED BULL fez de Dietrich Mateschitz um dos
empresários mais ricos do mundo, segundo a revista americana
Fortune, cujo patrimônio pessoal atinge US$ 5.3 bilhões. O
austríaco, de descendência croata, é um homem que nunca suportou
regras e formalidades e teve um desempenho escolar sofrível, tendo
concluído o curso de administração de empresas em 10 anos, o dobro
do tempo normal. Sua energia era dirigida para os esportes, como
esqui na neve, automobilismo e aviação. Sempre com um sorriso
estampado nos lábios, a pele bronzeada e a companhia frequente de
mulheres bonitas e estrelas do cinema, como Sylvester Stallone e
Arnold Schwarzenegger, lhe criaram a fama de “bon vivant”. Criou
uma empresa á sua imagem e semelhança.
O
sexagenário empresário continua cheio de energia e adepto fanático
dos esportes radicais. Sua jornada de trabalho é preenchida por
reuniões “com resultados imediatos e tomadas de decisão”. Entre
segunda e quarta-feira seu expediente não tem limites de horários.
As quintas são reservadas apenas aos assuntos que ficaram abertos
nos dias anteriores. “Sextas-feiras são dedicadas à família, aos
amigos, esportes e diversão”, afirma ele. De onde vem tanta
energia? Ele próprio responde: “Tomo
de oito a 12 latas de RED BULL por dia, dependendo de quanto durem os
dias e as noites”.
Seu espírito pode ser definido como criativo, dinâmico, não
conformista, profissional, autocrítico, simpático, autêntico,
esperto e singular. Modesto, nem pensar. Chamar a atenção de forma
pouco convencional tornou-se sua marca registrada e, conhecendo um
pouco mais de perto o funcionamento da empresa criada por ele, paira
uma dúvida: se o negócio dele é produzir bebidas energéticas ou
ideias mirabolantes.
A Marca no Mundo
O
energético RED BULL, que detém 70% do mercado mundial de
energéticos, pode ser encontrado em mais de 160 países ao redor do
mundo, vendendo mais de 4.63 bilhões de latas (2011) e alcançando
faturamento superior à €4.2 bilhões. Somente no Brasil, em 2011,
foram consumidas mais de 185 milhões de latas do energético. O
consumo per capita na Áustria é o mais elevado do mundo: 14 latas
ao ano. Nos postos de gasolina do país a bebida é mais vendida do
que a popular Coca-Cola. RED BULL é produzido somente em duas
fábricas: uma na Áustria e outra na Suíça. Desde seu lançamento
no mercado já foram consumidas mais de 30 bilhões de latas do
energético no mundo.
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