Ettore
Bugatti nasceu em 1881 na famosa cidade italiana de Milão. Sim, o
senhor Ettore era italiano, apesar de construir sua vida e sua famosa
empresa na França. Nasceu em um ambiente que seria decisivo para seu
futuro: uma família de artistas. Embora tivesse nascido também com
aquela indefinida característica genética que causa o entusiasmo
pelo automóvel, o meio artístico em que nasceu e foi criado teria
uma profunda influência em sua vida. O pai de Ettore, Carlo Bugatti,
é até hoje famoso por sua mobília artística. Desde garoto,
apresentou aptidão para a mecânica. Aos 18 anos abandonou a Escola
de Belas Artes de Milão, para desgosto do pai, e foi contratado como
aprendiz na empresa Prinetti & Stucci, em sua cidade natal. Lá
participou de seu primeiro projeto automobilístico, um triciclo
motorizado. A partir daí ele passou rapidamente por várias
empresas, até que fixou residência na cidade de Molsheim, na
Alsácia francesa, onde conseguiu financiamento para desenhar o
primeiro BUGATTI em 1908: o tipo 10.
No
ano seguinte ele fundou oficialmente sua fábrica de automóveis.
Desde o começo mostrou um senso de estética e proporção que
impressionam até os dias de hoje. Todos os componentes de seus
veículos deviam, antes de funcionar bem, ter uma aparência
impecável. Os motores sempre foram construídos em perfeitas formas
geométricas, sem que nenhuma parte visível ficasse sem acabamento.
Carros de competição se tornariam seu forte, visto que Ettore logo
descobriu que os pilotos pagavam qualquer coisa por um veículo
competitivo e veloz. E, dotados de pára-lamas e pára-choques, esses
modelos de competição se tornavam excelentes carros de passeio para
os mais abastados. Um dos carros mais conhecidos de Ettore foi o
imortal modelo T35 (Tipo 35), sua primeira obra-prima e um dos
automóveis de proporções mais perfeitas já criados. Suas
magníficas rodas de alumínio ficavam fora da carroceria, uma
delicada e minimalista criação que escondia completamente seus
componentes mecânicos e culminava com o hoje famoso radiador em
forma de ferradura. E não era só belo: equipado com um motor de
oito cilindros em linha, pela primeira vez na marca, contava com
comando no cabeçote e três válvulas por cilindro, que girava
extremamente alto para sua época.
O
modelo 35 teve longa carreira, de 1924 até 1931. Durante esses anos,
600 unidades foram construídas, venceu mais de 2.000 corridas
(considerado o maior vencedor de corridas de todos os tempos), tendo
feito sua estréia no GP da França de 1924. Foi o transporte
preferido dos playboys abastados dos anos 20 (Isadora Duncan morreu
em um deles, quando seu cachecol se prendeu a roda em movimento) e
transformou a BUGATTI numa marca respeitada, admirada e desejada. Não
foi por acaso que no dia 1 de maio de 1925 o senhor Ettore registrou
o slogan “Le
Pur Sangre Des Automobiles”
(“O puro sangue dos automóveis”) para seus preciosos carros.
“Seus
carros são realmente ótimos, Monsieur Bugatti, mas para um
verdadeiro gentleman, somente os Rolls-Royce são adequados”.
Quando ouviu essa afirmação em uma reunião social em meados desta
década, Ettore não ficou revoltado como era de se esperar. Uma
pessoa obviamente inteligente ele logo começou a pensar nos motivos
que levaram aquela linda jovem bem nascida a dizer tal coisa. Os
Rolls-Royce, apesar de tecnicamente inferiores aos carros do senhor
Ettore, tinham já naquela época qualidade e confiabilidade
incrível. Carros enormes, relativamente velozes e caríssimos, eram
a escolha preferida da nobreza européia, e, portanto a jovem não
deixava de ter razão. Ettore resolveu então que não aceitaria
passivamente essa situação. Discussões inúteis não valeriam a
pena: Ettore iria construir sua resposta. O resultado foi o tipo 41
“La Royale” ou, como é mais conhecido, o BUGATTI ROYALE.
O
modelo carregava uma mascote paquidérmica (um elefante de bronze
feito por Rembrandt, irmão mais novo de Ettore), no radiador por um
bom motivo: era um carro gigantesco. Media 4,32 metros de entre
eixos, pesava mais de três toneladas e custava o equivalente a três
modelos Rolls-Royce Phantom II. Nenhuma de suas peças recebia banho
de cromo. Ettore achava que tal metal era vulgar demais para os
carros, substituindo-o por banhos de prata. Um dos carros mais
lendários já criados, por seu glorioso exagero nas proporções, o
modelo conseguiu duas coisas: elevar a BUGATTI à um patamar acima da
Rolls-Royce, como pretendido, e apontar à empresa uma direção que
a levaria, em última instância, à falência. Em 1927, um ano após
a apresentação do Royale, que se tornou um divisor de águas dentro
da empresa, a BUGATTI inaugurava seu departamento próprio de
carrocerias, onde seu filho Jean criaria obras nunca antes vistas. O
Royale provou ser um modelo difícil para vender, situação que
piorou com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 e a
conseqüente crise econômica.
Apenas
seis carros foram criados em seis anos, de 1926 a 1931, mas três
ficariam por décadas com a família Bugatti. O primeiro a ser
vendido (chassi 41111) foi o lendário roadster encomendado pelo
milionário francês Armand Esders.
Os
Bugatti Royale raramente são postos à venda. Como são carros
famosos, historicamente importantes e raríssimos (apenas seis
existem), quando alguém resolve vender um, casas de leilão se
entusiasmam, fortunas estremecem e todos esperam o momento em que uma
quantidade exorbitante de dinheiro trocará de mãos. Na última vez
em que isso ocorreu, em um leilão no Royal Albert Hall em 1987, o
colecionador americano Miles Collier vendeu seu Royale para o sueco
Hans Thulin por quase US$ 8 milhões, o valor mais alto pago por um
carro até hoje.
Em
1931, Ettore já havia deixado a operação da fábrica sob a
responsabilidade de seu filho Jean, então com apenas 22 anos. Quando
uma greve estourou em 1936, Ettore, um homem que dirigia sua empresa
como um senhor feudal, ficou extremamente abalado, a ponto de
abandonar Molsheim e se exilar em Paris, onde passou a se concentrar
no lucrativo negócio de trens. Os trens BUGATTI são uma história a
parte: eram vagões integrados à locomotiva, altamente aerodinâmicos
e propelidos por uma combinação de dois ou quatro motores de oito
cilindros em linha do modelo Royale. Bateram vários recordes de
velocidade, mantiveram-se em operação até 1958 e garantiram a
sobrevivência da empresa durante a crise dos anos 30.
Enquanto
isso, Jean ficou livre para inovar. O modelo Tipo 57 é provavelmente
o melhor dos clássicos da marca e o mais vendido, 710 unidades.
Quando Ettore começou a criar carros, em 1899, Enzo Ferrari era um
menino. William Lyons, da Jaguar, só criaria seu primeiro esportivo
no final dos anos 30, quando a BUGATTI já era uma marca de tradição.
Mas em comum com esses dois pioneiros, uma infeliz história: todos
criaram filhos com a intenção de torná-los seus sucessores. E,
tragicamente, todos os três perderam esses filhos antes que pudessem
fazê-lo de modo completo. Jean Bugatti morreu em 1939, com apenas 30
anos de idade, em um acidente ao testar uma versão de seu clássico
tipo 57SC. Ettore nunca se recuperou dessa dor. Em 1947, morreu aos
66 anos.
A
BUGATTI fechou as portas em 1951, efetivamente sem direção. Os
outros herdeiros de Ettore (Roland e as duas filhas, L’Ébé e
Lidia) tentaram continuar a fábrica, criando o tipo 101 (um modelo
57 modificado), de 1951, e o 251 de competição, em 1956, com motor
central-traseiro, mas sem êxito. Durante este período, diversos
investidores tentaram salvar a tradicional montadora, mas sem efeito,
a BUGATTI continuou a produzir somente peças para aviões. Depois de
muitos altos e baixos, a marca passou para o controle do italiano
Romano Artioli em 1987, com uma nova fábrica sendo construída em
Campogalliano, perto de Modena, onde foram montadas várias unidades
do modelo EB 110, uma obra dos designers da Lamborghini, Paolo
Stanzani e Marcello Gandini, apresentado ao público oficialmente em
1991. Mas a aventura durou pouco e logo a empresa entrou em falência.
Em
1998 os direitos sobre a BUGATTI foram adquiridos pelo Grupo
Volkswagen, que inicialmente apostou na criação de protótipos.
Mas, para delírio dos fãs, os dirigentes da montadora alemã
confirmaram, durante o Salão do Automóvel de Genebra, que o
superesportivo BUGATTI EB 16-4 VEYRON chegaria ao mercado em 2003. O
novo modelo era um super-bólido equipado com motor de 16 cilindros
em W, com 1.001 CV (mesma potência de 12 carros populares),
atingindo uma velocidade máxima de 407.5 km/h. Para agüentar a
potência do motor o veículo era equipado com um câmbio de sete
marchas e duas embreagens. O modelo entrou em produção em 2005, e
teve sua primeira unidade entregue no ano seguinte. A BUGATTI que
durante décadas construiu os carros mais fascinantes de todos os
tempos renascia sob o controle da Volkswagen, 90 anos depois de
Ettore Bugatti ter apresentado seu primeiro modelo em Molsheim na
Alsácia. Recentemente a BUGATTI iniciou a produção da versão
targa do Veyron, um conversível com teto rígido batizado de BUGATTI
VEYRON GRAND SPORT, um modelo ultra exclusivo com tiragem de apenas
150 exemplares, sendo que 50 delas destinadas a clientes vips da
marca francesa. O modelo além do teto rígido de policarbonato
transparente e que pode ser retirado, conta com um “estepe”, já
que depois de retirado, o teto rígido não pode ser transportado no
carro. Trata-se de uma segunda cobertura de lona, que serve pra
proteger os ocupantes em caso de chuva. Um detalhe, o superesportivo
com o teto no lugar poderá atingir a mesma velocidade máxima do
Veyron fechado, de 407 km/h. A marca já anunciou que um sedã
esportivo, batizado de Galibier, será produzido em série muito em
breve.
A Força
Desde que a primeira unidade foi oficialmente entregue em 2006, o BUGATTI VEYRON foi considerado pela a revista americana Forbes o carro mais caro do mundo (para adquirir um modelo é preciso desembolsar mais de US$ 2 milhões). E um dos mais velozes (só para fazer uma comparação, em 15 segundos o modelo deixaria a Ferrari F2005, pilotada na época por Schumacher comendo poeira, já que ela não teria mais marcha pra continuar a disputa). Rapidamente o modelo, que supera os 407 km/h de velocidade final, se transformou em sonho de consumo de muita gente, mas que poucos um dia na vida terão o prazer de guiá-lo. Não satisfeita, recentemente a montadora apresentou a nova versão SUPER SPORT do super-esportivo. A montadora revelou que os 1.001 cavalos de potência da versão original ficaram bem para trás. A nova versão, apresentada em 2010, tem mais de 1.200 cavalos de potência, capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 2.4 segundos e atingir velocidade máxima de 431 km/h. Para conter toda esta potência, a BUGATTI também melhorou o sistema de freios, o qual é capaz de frear mais rápido do que acelera, precisando de apenas 2.2 segundos em uma frenagem de 100 a 0 km/h (o atual Bugatti Veyron precisa de 10 segundos para frenagem de 400 a 0 km/h). Além disso, as nove grades de titânio, que ajudam o carro a esfriar, foram desenhadas para evitar que pássaros fiquem presos e causem acidentes. No dia 7 de maio de 2009, a montadora anunciou que foi entregue o BUGATTI VEYRON de número 200 para um cliente do Oriente Médio. Recentemente, a marca anunciou que vendeu o último dos 300 exemplares do Veyron, a última unidade derradeira deve ficar pronta apenas em 2012 e será entregue a um milionário desconhecido na Europa. A BUGATTI continuará produzindo apenas a versão conversível, apresentada pela primeira vez em 2008.
Para
que possa atender aquele restrito público de consumidores cheios da
grana, a marca divulgou recentemente três de suas novas versões do
conversível BUGATTI
VEYRON GRAND SPORT 16.4,
Equipado com motor 16,4 litros, com 16 cilindros em W (junção de
dois V8). O principal diferencial são as cores da carroceria. O
destaque é a combinação de amarelo e preto, tema usado inclusive
nos bancos em couro amarelo e costura preta. O console central é em
fibra de carbono preta, enquanto o painel do volante e câmbio são
revestidos em couro preto com costura amarela. A edição especial
custa nada menos que €1.58 milhões. Outra opção apresentada foi
a combinação de azul carbono com alumínio polido, com belas rodas
em alumínio polido e dois tons de acabamento, e mais, com belas
grades frontais e entradas de ar em alumínio e acabamento espelhado.
A terceira opção apresenta uma cor inferior no tom de tangerina e
apenas porta, console central, painel e painel de instrumentos do
volante são revestidos em couro azul escuro e fibra de carbono azul,
com costura tangerina no volante e na alavanca de câmbio. E quando
se achava que o Veyron não ganharia mais edições exclusivas eis
que surge a marca com uma novidade. Trata-se da versão
L’Or Blanc
(ouro branco,
em francês), que se destaca por substituir a tinta que reveste o
metal e a fibra da carroceria por pigmentação à base de porcelana.
O preço da novidade condiz com sua peculiaridade: €1.65 milhões.
Exclusividade
Uma jóia de engenharia do quilate de um BUGATTI não tem uma produção simples. Tudo é feito artesanalmente, o que justifica os milhões de euros que custa uma obra-prima desta. Ao encomendar o carro hoje, o comprador só o receberá em aproximadamente um ano e meio. Depois de cinco meses da encomenda, deve-se ir à sede da marca, em Molsheim na França, para escolher os materiais de acabamento. Por fim, na entrega, o privilegiado novo proprietário passa por um treinamento com o piloto oficial da BUGATTI, o francês Pierre Henri Raphanel, para aprender a domar a fera. A marca dispõe também de cinco técnicos, responsáveis por pequenos grupos de clientes. São como padrinhos. Cada proprietário tem o seu à disposição. Além disso, a empresa monitora o tempo todo o carro. Se algum problema ocorrer o cliente será atendido na hora.
Design
Nos últimos anos a tradicional marca começou a espalhar seu DNA de design por outras áreas, como por exemplo, roupas, perfumes (cujo desenho do vidro lembra as linhas contemporâneas do Veyron 16.4), linha de cosméticos, miniaturas de automóveis, acessórios como chaveiros, malas de couro, bonés, carteiras e até guarda-chuva.
A Marca no Mundo
A empresa, localizada em Molsheim Château St. Jean, próximo a Estrasburgo, tem produção extremamente limitada, no máximo 50 carros por ano, que são vendidos em mais de 80 países do mundo. De acordo com a marca, 30% das vendas de seus veículos estão nas Américas, 30% na Europa e 30% no Oriente Médio. Hoje existem no mundo aproximadamente 300 unidades da nova geração do BUGATTI rodando ou repousando em luxuosas garagens.
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